segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Intolerância



César de Oliveira engajou-se ultimamente em um projeto. Homens patriotas com ideais do militarismo – cujo sistema ainda vive em alguns devaneados -, patrocinavam seus experimentos, entre eles, uma norte-americana. Eles temiam a inevitável 3ª Guerra Mundial. Os países desenvolvidos estavam criando muitas rixas um contra os outros, devido às demonstrações de poder destrutivo, de certo ponto exibicionista, deixando um a um irritados com tal situação de que possam ser viradas contra outros “terráqueos conterrâneos”. E até mesmo a crise econômica, já esperada há tempos por eles seria uma boa desculpa para iniciar o tão inevitável acontecimento.
Os militares nacionais não queriam estar de fora dessa linha de frente, onde introduziriam os peões para receberem o primeiro tiro patriótico, enquanto tomam chá em suas casas seguras e jogam xadrez.
Descobriram em César de Oliveira a chave para esse sucesso, pois César é um renomado químico que dedica em seu trabalho, às transformações químicas que um elemento causa no corpo humano. Seu último trabalho era o que interessavam aos patriotas. Um experimento convertido em arma química chamado de Ômega Tolerantia.
César estava reunido com os seis militares e revelava os prós e os contras de tal arma, pois ainda não estava finalizada.
- Ômega Tolerantia, irá estimular os nossos soldados a ter uma força sobrehumana, emitindo toxinas ao cérebro do individuo e eliminando a barreira que a massa cefálica impõe ao corpo de usar toda a força humana. Apenas utilizamos 20% de nossa força total, o cérebro veta os 80% porque senão nossos ossos se triturariam com a tremenda força que seria imposta sobre algum ser vivo ou objeto. Fiz estudos recentes e descobri que quando a adrenalina no corpo humano eleva-se devido ao ódio que uma pessoa sente, sua força aumenta consideravelmente, até chega a ser espantosa em alguns casos. A proteção que o corpo fornece é a rápida circulação do sangue, que esquenta o corpo e fornece um mínimo de defesa para os ossos frágeis. Depois que a fúria cessa, a pessoa sente a dor que impôs seu ódio, transbordando em seu corpo. Então o Ômega Tolerantia em estado líquido, potencializado pelo H20 irá provocar estímulos químicos que provocarão raiva nas pessoas e ele poderá agir melhor no corpo do individuo, dando-o uma força além que o seu corpo suporta. Seja nas pernas, nos braços, enfim, em todos os músculos do corpo ele reagirá, dando mais resistência a eles para não se partirem com a força.
Todos gostam do efeito do projeto e discutem entre si. O general Rodolfo contente sobre o projeto, pergunta-lhe:
- Bom senhor César de Oliveira, pelo que disse esse projeto é sensacional. Teria ele algum contra?
César coça seu cabelo ralo e lhe diz:
- Já que ainda é um experimento, está em fase de testes. De algum modo, o Ômega Tolerantia não afeta pessoas de 15 anos para cima...
Os militares ficam insatisfeitos com isso e o general Rodolfo exclama:
- Então essa arma é inútil! Não podemos mandar crianças para a guerra!
Alden, a norte-americana fica interessada nos efeitos negativos e pergunta:
- Por que as pessoas maiores de 15 anos não são afetadas?
César explica:
- A vacina dos 15 anos, a antitetânica, impede o Ômega Tolerantia de agir. Já que ele é composto por íons metálicos. Essenciais para o funcionamento dele. Então as pessoas que tomaram essa vacina, são praticamente imunes sobre o vírus. Ainda...
Os olhos tempestuosos dos patrocinadores pressionavam César. Queriam resultados imediatos do experimento, não queriam perder tempo. Ele tenta acalmá-los:
- Mas não se preocupem, estou providenciando um modo de transpassar essa barreira.
Um dos outros generais se pronuncia:
- Não é isso que nos preocupa senhor Oliveira, mas sim o fato de seu vírus ter uma cura. E ainda por cima de baixo custo. Esse vírus não seria útil em nada se nossos inimigos soubessem a cura.
César tenta intervir:
- Mas a cura é algo importante para o caso de algum efeito colateral.
- Efeito colateral? – pergunta Alden –
- Sim, de 10 animais em que testei 2 apresentaram anomalias. Com já disse meu experimento tem íons metálicos e esses metais tomam a função do ferro no sangue e chega a causar anemia profunda, por isso, junto deste, fiz uns comprimidos que controlam a toma desses metais pelo ferro no sangue. Um dos efeitos colaterais são como, sangrarem em pequenas quantidades pelos orifícios, reagir de forma insana todo o tempo, mesmo depois do efeito da droga já ter passado...
- Então esse é mais outro contra?! – diz Rodolfo, irritado – O vírus não tem muito tempo de vida no organismo?!
- Não, não é isso general Rodolfo. – tenta explicar – O vírus fica contido no corpo hospedeiro e se funde com o seu DNA. Com disse, fica retido no sangue. Ele só é ativado, caso a pessoa entre em fúria, para que ele possa agir. Já no caso dos dois animais, a raiva deles não passaram e acabaram morrendo de ataque cardíaco.
Insatisfeitos, os militares lhes dão as costas sem dizer palavras e saem do laboratório, ficando apenas Alden. César fica irritado com a impaciência deles. Não estava há muito tempo desenvolvendo essa arma, como queriam resultados tão rápidos?
- Não ligue para eles senhor Oliveira, - diz Alden – são apenas homens de visões mini-mizadas pela crise da meia idade. Admiro muito sua genialidade, diferentemente das deles. Por isso queria te convidar a desenvolver esse projeto para o meu país.
César fica assustado com a proposta e diz:
- Por que me propõe isso? Nossos países são aliados, não são?
Alden aproxima-se dele e lhe diz:
- Quando ocorre uma guerra, levamos primeiro nossos devedores para a linha de frente para depois mandarmos nosso povo da classe proletária. A guerra é uma amiga da eco-nomia e do planeta, reduzindo em massa a superpopulação mundial e dando lucro ao país pelas terras conquistadas. Então aliado é uma palavra muito forte. Se me entende?
César entende a situação. Estava numa guerra de tubarões, onde o maior pedaço de carne é disputado.
- Então peço que me acompanhe até a minha limusine e discutamos sobre esse projeto no meu apartamento.
Sem contestar ele aceita. Pega a maleta com três frascos com o vírus, junto com suas anotações e sai de lá. Os dois acomodam-se na limusine, que começa a se deslocar. Al-den alcança uma garrafa de champanhe e duas taças, oferecendo uma a César.
- Vamos brindar a nossa aliança senhor Oliveira, que ela seja duradoura.
Contente só de imaginar o montante de cifrões que estariam em sua conta bancária, ele pega uma taça e brinda com ela. Alden bebia o champanhe e não tirava os olhos de Cé-sar, deixando-o encabulado.
- Sabia que é um homem atraente senhor Oliveira?
César fica ruborizado. Uma mulher linda, rica e poderosa como essa lhe cantando? Não iria querer perder a chance de ouro.
- Saber até eu sabia, mas a sua beleza incomparável me fez esquecer disso senhorita Alden.
Alden começa a rir e lhe pergunta:
- Acha mesmo senhor Oliveira?
- Claro, por que não? É uma mulher atraente e inteligente, deve ter muitos homens que matariam por você.
- Ao contrário, - discorda Alden – acho que os homens têm medo de minha independên-cia e pulso forte.
- Eu não tenho. Admiro muito isso numa mulher, que é raro encontrar nesse mundo mu-lheres especiais desse jeito.
Alden sorri com o elogio e olha pela janela. Então diz para o seu motorista:
- Albert, stop here please.
A limusine é estacionada e Alden abre a porta próxima de César. Os dois saem e ele analisa o local. Era um motel nem um pouco luxuoso em que pararam em frente. Alden olha para ele com um leve sorriso e diz:
- Vamos?
César fica perplexo com o convite e logo exclama:
- Quer que façamos num lugar desses? Sendo que a senhorita é rica e esse lugar é tão...
- Vejo que mentiu senhor Oliveira. – interrompe ela – É como todos os homens, tem medo da minha personalidade.
Ele não queria passar por covarde e aceita a proposta sem hesitar. Ela paga a estadia e os dois entram no quarto se beijando e tirando a roupa com tremendo furor. Logo começam a fazer sexo. César estava aproveitando o momento. Transando com uma mulher deliciosa e boa de cama, que o levaria para o poço dos desejos, da mais profunda riqueza estrangeira.
Em meio ao prazer, sente dificuldades súbitas em sua respiração. Seu coração doía co-mo se fosse explodir e todo o seu corpo começa a formigar. Vendo isso, Alden o tira de cima de si e levanta-se começando a se vestir como se nada estivesse acontecendo. César em meio disso, fica confuso com sua atitude e clama meio sem ar:
- Me ajuda... Estou passando mal...
Totalmente vestida, ela lança-lhe um olhar frio e diz:
- Não se preocupe o veneno logo lhe matará.
- Veneno...? Mas que veneno...? – pergunta ele, atônito –
- O veneno que havia no champanhe. – retruca ela –
César a beira da morte, fica ainda mais confuso, pois ela também tomou do champanhe e não a viu colocar nada em sua taça. Praticamente impossível. Saindo do quarto, ela lhe diz:
- Não se preocupe não vou morrer. Pratico... (colocar o nome da arte em que se toma veneno para se acostumar a ele) e sou imune a esse veneno.
Ela sai do quarto e não demora muito para que o véu da morte cobrisse os olhos de Cé-sar. Alden segue para a limusine e pede a Albert que a leve para o aeroporto. Durante o trajeto, pensa consigo de ter conseguido cumprir sua missão. Estava com o vírus em mãos e com as anotações do idiota, tudo em sua limusine, dentro da maleta que ele car-regava. Na verdade, Alden é espiã internacional, com a missão de roubar tecnologias e armas para o seu país. Ri consigo, pois nunca faria acordo com países de terceiro mundo e não seria agora. Seus pensamentos são subitamente interrompidos por um caminhão desgovernado que avança o sinal vermelho e choca-se duramente com a lateral da limu-sine, fazendo-os capotar e cair dentro do mar.
No dia seguinte, uma patrulha de resgate consegue trazer à superfície a limusine, porém Albert e Alden estavam mortos, presos as ferragens do carro. Morreram com o impacto e não com o afogamento. O fato repercutiu pelo país inteiro, já que eles eram estrangeiros.
A área marítima em que caíram era de pesca e ficou interditada por vários dias, deixan-do vários pescadores irritados. Dentre eles Gilberto, que pescava por diversão junto de seu filho pequeno chamado Pedro.
Vão pescar mais animados quando a interditação termina. O tempo estava bom para pescar e vários outros pescadores estavam aproveitando, pois os peixes estavam agitados como nunca se vira. Pulavam da água e se debatiam no ar. Gilberto e Pedro vieram com o balde cheio, na verdade, três baldes cheios de peixes. Os maiores foram todos postos no porta-malas. A dona Silvia, mulher de Gilberto e mãe de Pedro é que iria ficar uma fera, já que seria ela que limparia o porta-malas e não o preguiçoso do seu marido.
A abundância era tanta que Gilberto dividiu com os vizinhos. Como comemoração, Silvia preparou uma moqueca de peixe com pirão. Especialidade dela. Como sempre, sua comida estava maravilhosa e recebeu muitos elogios de sua família.
Logo anoitece. Depois da novela, todos põe-se a dormir como sempre faziam. Gilberto tinha que dormir, pois tinha que chegar mais cedo no trabalho amanhã e Silvia tinha que deixar tudo arrumado, já que deixou louça acumulada por insistência do marido que queria que ela fosse se deitar com ele.
No meio da madrugada, Silvia escuta gemidos vindos do quarto de Pedro, seu filho. Preocupada, coloca uma roupa e vai pro quarto do filho ver o que era. Acende a luz e vê Pedro completamente suado e revirando-se na cama, irritado. Ele ainda dormia, mas parece que estava tendo pesadelos. Nesse caso, sua mãe vai lhe acordar e para o espanto dela, Pedro ardia em febre. Não hesita em chamar pelo marido, que ouvindo o seu tom de voz, corre para saber o que é.
- Prepara o carro amor, o Pedro está ardendo em febre! – exclama ela –
Sem delonga Gilberto corre para a garagem. Silvia estava muito preocupada, e vendo da nascente que a testa de Pedro parecia com o esbanjamento de suor, seca-o com a ponta de sua camisola. Subitamente seu pulso é agarrado firmemente pela mão de Pedro. De imediato, sentiu uma horrível dor, pois ele estava empregando muita força.
- Tira a mão de mim! – grita ele –
Gemendo de dor, ela clama:
- Calma filho, sou eu... Sua mãe...
Os olhos de Pedro estavam vermelhos bem intensos, como se estivessem irritados. Com enorme força ele a empurra, fazendo-a cair ao chão. Silvia analisa seu braço pressionado e entra em choque em ver o estado em que ficou. Estava vermelho parecendo sangue e parte de seu osso estava exposto. O sangue esfria e ela começa a sentir a intensa dor.
Pedro começa a se contorcer em enorme dor. Seu corpo não agüentava mais transpirar pela alta temperatura em que estava sendo submetido. Rapidamente ele vai para a cozi-nha e mete a boca na torneira do filtro e desce água goela abaixo. Sua mãe fica na porta da cozinha, horrorizada com a cena. Logo chega Gilberto que de imediato repara no ferimento no pulso de sua mulher.
- O que foi isso mulher?! – torna a olha para Pedro – E o que o nosso filho está fazendo?
- Eu não sei, eu não sei! – retruca ela, nervosa –
Parecia que o corpo de Pedro estava perfurado, pois toda a água que ele bebeu, espiou pelos poros em suor. Gilberto fica aflito pelo filho e aproxima-se do garoto, dizendo:
- Filho, o que está aconte...
No ato, Pedro vira o punho com tudo contra seu pai, acertando-o no rosto. O impacto foi tão forte que acabou quebrando o pescoço de Gilberto, falecendo-o no chão. Silvia solta um grito de pânico e ocorre um som de tiro na vizinhança, com vários gritos es-candalosos. O sangue de Gilberto escorre pelo chão e isso atrai a atenção de Pedro, que estava completamente fora de si e nem percebeu o que fez. Chega perto do cadáver do pai e coloca o rosto próximo do sangue escorrido, pondo-se a cheirar, como um animal selvagem.
Silvia estava atônita, o pavor paralisou completamente seu corpo para ter alguma reação. Para o seu desespero, Pedro começa a lamber o sangue alheio ao leito do chão, com tremenda fome. Finaliza no chão e avança na raiz, bebendo do pescoço de Gilberto, vorazmente. Diferentemente da água, o sangue lhe propunha um alívio em relação a dor que sentia por todo o corpo com a alta temperatura que estava.
Horrorizada e em prantos, Silvia queria evitar que essa insanidade continuasse e tenta separar seu filho do corpo do pai, porém Pedro a empurra com força descomunal e libera um grunhido, voltando a saciar-se dos fluídos.
Assustada, ela corre para fora de casa para procurar ajuda. Seu filho estava louco, nem mais palavras distinguíveis saía de sua boca, apenas um grunhido demoníaco. Ao abrir a porta, depara-se com um verdadeiro pandemônio na vizinhança. Seu filho não era o único caso. Os pais corriam assustados pelos filhos que os perseguiam como se fossem matá-los.
Haviam crianças que não foram afetadas, porém elas eram completamente ignoradas pelas fora de si. Elas preferiam mais os adultos. Uma delas é abatida por um tiro na nu-ca, era a filha da Elza, vizinha ao lado. O disparo viera de um dos seus vizinhos, cha-mado João. Ele portava uma 9 mm no coldre e uma escopeta na mão, sendo que as mu-nições estavam num cinto que ele envolveu no ombro. Uma a uma ele começa a abater e os pais que sobram vivos ficam horrorizados vendo suas crianças serem aniquiladas desse jeito e começam a apedrejá-lo, já que não sabiam mais o que fazer pela ação que o desespero causou-lhes nos sentidos. Preferiam a morte a fazer mal a seus amados filhos. Porém não por muito tempo, pois as crianças, que eram muitas os mataram violentamente e absorviam seu sangue, diretamente das jugulares. Silvia percebe que eles entravam numa espécie de nirvana quando estavam bebendo do sangue. Ignoravam comple-tamente a sua volta e se satisfaziam dos fluídos.
As pessoas que sobraram, correm para a casa de João e ele lhes dá abrigo.
- Hei sua vadia, se não quiser morrer entre aqui!
Ela acorda para a realidade e sem escolha ela vai. Silvia é a última a entrar e João fecha a porta. Logo quando entra, percebe o corpo de Suellen com o crânio estourado no me-socrânio. A menina era sobrinha de João e tinha 14 anos. Estava passando o feriado com ele e seu irmão, que estava sentado no sofá aos prantos.
- Tive que fazer isso, senão ela matava o irmão. – explica-se João –
Ele mostra o braço ferido e continua:
- Ela estava muito forte que acabou fraturando meu braço. – ele olha para Silvia e lhe diz – Parece que aconteceu o mesmo com você, não é?
- Mas que loucura é essa?! – exclama Sônia –
Na sala, haviam Sônia e Fábio, adolescentes, Maria, uma senhora e Leandro e Cíntia, um jovem casal. Sem contar com Silvia, João e seu sobrinho Evandro.
- É o Demônio que possuiu nossas crianças. – diz Maria, a senhora –
- Que demônio o quê! Foi o maldito peixe que o desgraçado do marido dessa vadia trouxe, foi depois de comerem que ficaram assim! – exclama João –
Silvia que já estava perturbada, grita com ele:
- Se fosse a porcaria do peixe, todos nós estaríamos sendo afetados, não é seu retardado de merda?! Por que todos nós comemos!
- Eu não comi! – brada Evandro, sobrinho de João –
- Até que faz sentido, - diz Leandro – pois as crianças que não foram afetadas não co-meram do peixe, pois Cíntia e eu a trouxemos de uma excursão que organizamos e elas já estavam sem fome. Também chegamos à noite, sem chance de comer o peixe que foi no almoço.
- Está dizendo que só as crianças são afetadas por seja lá o que for? – pergunta Cíntia, sua namorada –
- Bem, é um palpite.
- Nada a ver! – diz Fábio, com os olhos em fúria – Tenho 15 anos e comi desse peixe e não fui afetado. Meu primo que veio do interior para passar as férias na minha casa tem 18 e foi afetado.
João mira na hora sua escopeta para Silvia e raivoso diz:
- Só deixei você entrar sua desgraçada para me explicar que droga está acontecendo, então fala de uma vez!
Acuada, responde-lhe:
- Mas eu não sei nada.
- Calma João, - intercede Leandro – não temos certeza de que foram os peixes que con-taminaram as crianças.
- Claro que temos, todos os afetados comeram dessa droga. – retruca João –
Isso ninguém podia contestar, porém suas atenções são voltadas para a porta que é ar-rombada por uma das crianças. Rapidamente João lhe difere um tiro certeiro no crânio e o mata, isso chama a atenção das outras crianças que se dirigem ao local.
João leva todos para os fundos, chegando a sua caminhonete. Eles sobem na caçamba e vêem as várias armas que haviam lá e ficam espantados.
- Agradeçam por terem um vizinho que contrabandeia armas. – diz João –
Sem mais, João pede que cada um pegue uma arma e fiquem atentos. Assume a direção e sai com a caminhonete.
- Para aonde vamos? – pergunta Sônia para João –
- Para bem longe daqui. – responde ele –
João dá a partida no carro e sai disparado para a cidade, atropelando as crianças que ficavam no caminho. Pedro vê a caminhonete saindo e começa a persegui-la.
Da vizinhança até a cidade levava 10 minutos de carro. Ao chegarem à avenida princi-pal, vêem o mesmo pandemônio, porém muito pior. Existiam mais crianças e vários carros pegavam fogo e muitas das coisas estavam destruídas. Saíram de um inferno para outro. João matuta no que fazer e lhes diz:
- Se eles se aproximarem, quero que atirem na cabeça deles.
- Como vamos fazer isso, são apenas crianças! – diz Silvia –
- Crianças que podem te matar se você fraquejar pelos seus rostos angelicais. – diz ele –
Uma das crianças os percebe ali e corre ligeiramente na direção da caminhonete. João pede que algum deles atirassem, porém ninguém tinha coragem para isso e a criança vinha com mais sede. João grita com eles, quando súbito um tiro transpassa certeira-mente o crânio da criança. Todos olham atônitos para o atirador e vêem que foi Maria, que tremulava de nervoso pelo que acabou de fazer.
As outras crianças fixam suas atenções de onde proviera o barulho e como uma manada elas vêm, todos espalhados como numa formação de combate. Era o que João queria, fazê-los se dispersarem para poder andar com mais liberdade. Estava com um lugar em mente, bem seguro, aonde iria levar todo mundo. Acelera ao máximo e sai atropelando várias delas. Algumas são espertas e se seguram no carro, querendo tirá-los de lá, porém são executados por Silvia e os outros. Que faziam isso com total desgosto e renunciando a sua “humanidade”.
João bradava irritado com as várias crianças que apareciam no caminho, estava até vermelho e ligeiramente suado. Elas apenas sossegaram quando conseguem derrubar Maria. A coitada não teve chance alguma, foi totalmente seca pelos contaminados se-dentos por sangue.
Todos se entristecem pela perda, entretanto João consegue abrir caminho já que eles estavam distraídos com sua refeição. Ele chega até um beco e pára próximo de uma casa de tijolinhos, pedindo que todo mundo desça.
- Não podemos parar, temos que sair daqui. – exclama Sônia –
- Deixa de ser idiota garota, - Fábio a exorta – não percebeu que até aqui as crianças estão anormais. Dará na mesma se sairmos da cidade.
João se mune com sua escopeta e pede que lhe sigam, e todos entram na casa de tijoli-nhos.
- Ricardo. – chamava João, mas ninguém aparecia – Onde esse babaca está...
Fica surpreso em ver o seu amigo estirado ao chão. Morto e sem uma gota de sangue no corpo.
- Esse é o Ricardo? – pergunta Leandro –
- Sim, - responde João – ele que contrabandeava comigo.
Sem ficar muito emotivo, João pede que eles vão para os fundos procurarem por um grande baú, onde teria muitas armas e munições dentro. Silvia não estava com cabeça para isso, seu marido está morto e seu filho é o assassino. Senta-se na cozinha e entrega-se ao pranto.
O pessoal se muniu até os dentes e se reuniram na sala para poderem discutir o porquê desse problema, já que as crianças deram uma sossegada lá fora. Porém Silvia não estava entre eles. Então João vai procurá-la. Ele a encontra completamente deprimida e com os olhos inchados de tanto chorar. Fica comovido com sua situação e tenta amenizar:
- Me desculpa por ter te xingado e colocado à culpa em você, mas é porque isso está muito louco para mim... Tive que atirar na minha sobrinha e não está sendo nada fácil admitir o que fiz... Não vou ter coragem de dar essa noticia pra minha irmã.
Silvia levanta-se secando as lágrimas e diz:
- Não está sendo fácil para ninguém... Vi diante dos meus olhos meu próprio filho matar meu marido e depois sugar seu sangue... – ela volta a se emocionar e como um imã, ela gruda em João, lhe dando um forte abraço de dor – Queria que isso fosse apenas um pesadelo e que eu acordasse dele.
Ele também lhe abraça e diz:
- Também queria.
Todos estavam num silêncio mórbido na sala, não disseram nenhuma palavra desde que João foi procurar por Silvia. Logo eles se juntam a todos. Silvia seca as lágrimas e tenta se manter forte para poder pensar.
- Bem pessoal, - começa ela – vamos juntar as peças e tentar entender essa loucura. O que temos para discutir?
- Temos o fato de que todos os afetados são crianças. – objeta Cíntia –
- Eu já disse, – discorda Fábio – isso não tem nada a ver. Meu primo de 18 anos foi afe-tado também.
- Mas seu primo foi o único na fase adulta que foi afetado, estamos indo pela maioria. – diz Sônia –
- Vai ver esse seu primo tinha algo vulnerável no corpo, por isso. – deduz Evandro –
- Não acredito nisso. – retruca Fábio –
- Mas de certa forma, não fomos afetados e como o Leandro já disse, as crianças que não comeram do peixe também não foram. – impõe-se Cíntia –
- O estranho também é que elas não eram atacadas pelas afetadas, pareciam que não estavam lá para eles. – Silvia dá sua opinião –
Todos concordam com isso e discutem entre si sobre o que possa ser. Para facilitar o entendimento, cada um falou sua idade. João 37, Silvia tem 34 , Leandro 20, Cíntia 19, Sônia 17, Evandro e Fábio 15.
- A Suellen tinha 14 anos, não é? – pergunta Silvia –
Meio triste, Evandro confirma. Silvia se entristece ao ver o rosto de Evandro, seu filho Pedro tem a mesma idade dele. Já descobrem que crianças de 14 anos para baixo são afetadas sem dúvida, pois Suellen não foi à única de 14 anos a ser afetada. Mas com o depoimento de Fábio, fica confuso de saber o que realmente ocorre, ele disse que comeu do peixe e não foi afetado, mas seu primo de 18 anos que também comeu, foi afetado. Começam a pensar em alguma resposta, entretanto, está muito difícil juntar as peças.
João estava nervoso e frequentemente limpava sua testa. Fora beber água várias vezes para lhe aliviar o calor. Silvia o vê nessa situação e fica perto dele e tenta retribuir o favor que ele lhe fez na cozinha, de emprestar seu ombro para ela chorar. Um ruído sú-bito na porta dos fundos acontece. João vai verificar e descobre que foi provocado por um vendaval que começara.
Novamente reunidos, põem-se a raciocinar. Silvia não entendia porque seu filho foi afetado e Fábio não, sendo que tem a mesma idade. Uma idéia perturbadora lhe vem à mente e ela pergunta para Fábio:
- Você tomou a vacina antitetânica Fábio?
- Por que me pergunta isso?
- Apenas responda! – diz ela, nervosa –
Fábio confirma, sem entender nada.
- E seu primo?
Fábio pensa e responde-lhe:
- Bem, ele veio do interior e arrumou um bom emprego aqui. Ele queria até se estabilizar nessa cidade, mas a empresa cobrou que ele tomasse todas as vacinas que faltavam na carteira de vacinação. Creio que ele não tomou a antitetânica. Mas o que isso tem a ver?
Crente de que seja isso, ela diz:
- Pode ter tudo a ver, pois meu filho tem sua idade e não tomou a vacina. Eu pegava no pé dele todo o dia para fazer isso, só que ele sempre adiava. Creio que todos aqui tam-bém tomaram essa vacina. E ela nos deixou imunes contra esse mal.
Um a um confirma, chegando a João que um pouco ofegante, também confirma. Evan-dro lança-lhe um olhar duvidoso e começa a encará-lo. João vê que está sendo encarado e lhe diz:
- O que foi garoto?
Evandro apenas balança a cabeça, negativamente.
- Então isso prova minha teoria. – continua Silvia – Apenas quem fez 15 anos que pode tomar a vacina. As crianças foram afetadas por causa disso, por não serem vacinadas.
Ainda cheio de dúvidas, Sônia pergunta:
- Mas isso não explica as crianças não afetadas não serem atacadas e as que foram, beber o sangue dos adultos que matam.
Silvia lembra de seu filho e fala:
- Lembro que meu filho começou a ficar com febre e ele correu para a cozinha e esvaziou o galão de água mineral... – essa parte era a mais difícil de contar, mas era seu dever concluir – Foi quando ele matou meu marido e bebeu do sangue dele, foi quando ficou mais calmo.
Todos concordam, lembram de terem presenciado as crianças terem entrado em transe e ficado mais calmas quando bebiam do sangue de um adulto. Todavia, tentavam entender essa questão, quando vem uma hipótese para Leandro, que logo expõe:
- Pode ser que eles ataquem os adultos e bebam seu sangue para aliviar a dor que estão sentindo. Já que a antitetânica circula por anos no sangue de uma pessoa, pode dar certo alivio para a dor deles se beberem de uma pessoa vacinada. Em hipótese de que a vacina combata esse vírus ou sei lá o quê.
Concordam entre si, tais hipóteses tinham um pouco de fundamento. Já que é apenas a única explicação plausível em que podem se apoiar. Evandro olha novamente estranho para seu tio, que segue para a cozinha, outra vez. Levanta-se e o segue, queria ter uma conversa com ele.
Estavam todos aflitos com a situação. Pareciam estar esperando uma bomba relógio explodir. Não sabiam quando as crianças atacariam novamente.
Um grito de dor, seguido de um disparo acontece na cozinha. Assustados, eles vão para lá, saber o que houve. Nisso encontram João caído no chão um pouco abatido e uma estrada de sangue que se estendia até outro cômodo. Silvia segue o rastro e nesse instan-te ela deseja que seu coração pare, pois era seu filho Pedro se saciando do sangue do corpo de Evandro, já morto.
Grita desesperada e afasta-se dali, correndo para a sala, completamente apavorada. Le-andro corre para o final do rastro, munido com uma AK 47 e apenas encontra o corpo de Evandro, sem nenhuma gota de sangue no corpo. Nem dá para raciocinar direito porque ocorre um estouro e outro grito, porém este é familiar.
Leandro corre para o local em que ouviu o grito e vê Sônia e Fábio atirando em direção a porta. Quando vê, eram várias crianças que entraram e os dois estavam abatendo-as. Repara que Cíntia não está com eles e sente a maior angústia de sua vida. Várias crianças estavam bebendo do seu sangue...
O desespero miscigenado com o ódio se apossa dele e começa a disparar descontrola-damente contra os pequenos. Vai abatendo um a um, porém parecia um formigueiro. Apareciam mais e mais. A munição de Sônia e de Fábio acabam e vendo isso, Leandro toma uma atitude desesperada:
- Saíam todos daqui e vão para um lugar seguro!
- Mas e você...? – pergunta Sônia, preocupada –
- Que se dane, não tenho mais nada a perder. Agora vão logo droga!
Meio hesitantes eles obedecem, saindo pela porta dos fundos. Levando consigo Silvia, que estava transtornada com tudo isso. Leandro descarrega a munição em todos eles, tirando-os de cima do corpo de Cíntia. Com o caminho limpo; em prantos aproxima-se dela e ajoelha-se ao seu lado. Beija inconsolavelmente o cadáver de sua namorada, de-sejando morrer junto com ela. Como o estouro de uma manada, mais crianças aparecem e cobrem Leandro rapidamente, sem chance de reagir. Morrendo de sede, as crianças se saciam com o seu sangue.
Silvia, Sônia e Fabio começam a correr para um lugar mais tranqüilo e sem crianças, mas estavam sendo seguidos. Escutavam passos rápidos bem atrás deles. Silvia temia que fosse o seu filho. E para piorar, o seu temor se realiza, mas não o de seu filho, mas sim de uma criança que pára bem à frente deles. Sem muita defesa, Fábio usa um punhal que encontrou na casa do amigo do João e ameaça cortar a criança.
A criança vem com tudo para cima de Fábio, que enfia o punhal no estômago dela, po-rém não entra completamente e a criança o derruba. Silvia pega uma lata de lixo e joga contra ela, que dá um soco contra a lata, amassando-a. Fábio aproveita e corta o rosto dela de raspão, abrindo um corte semiprofundo. A criança não se abate e torna a avançar contra eles, quando um tiro certeiro atinge sua cabeça, derrubando-o ao chão.
Era João, munido com sua 9 mm. O homem estava atordoado, ligeiramente suado. A-proxima-se rapidamente deles e ligeiramente suado. Aproxima-se rapidamente deles e vocifera:
- O que estão fazendo parados?! Mexam-se seus idiotas!
Plenamente irritado, João carrega-os para sua caminhonete e dá a partida no carro, sendo seguido pelas as crianças insanas e sedentas pela cura sanguínea.
- Para aonde vamos agora? – pergunta Sônia, aflita –
- Para um lugar longe dessa merda toda. – retruca João, estabilizando sua raiva e suando menos –
O motorista cansado pega uma de três garrafas de água gelada que resgatou da casa de Ricardo e leva o líquido refrescante goela abaixo. Silvia, Fábio e Sônia estranham seu comportamento e sua sede insaciável.Vendo-os encarando-o, ele diz:
- Vocês querem um pouco de água?
Os demais nada respondem e voltam suas atenções a estrada. João dá de ombros e con-tinua a beber sua água. Fábio e Sônia só conseguiam pensar na morte de seus pais, na morte dos outros e como conseguiriam sair desse pesadelo. Silvia só queria uma solução, um milagre, que um anjo descesse do céu e acabasse com essa loucura; ou qualquer outra coisa, mas que desse um fim nessa maldição que afetara suas crianças. Seu pobre Pedro e seu falecido marido... João apenas secava a testa úmida e esvaziava as garrafas com sua sede voraz. Sentia-se irritado por estar suando tanto e sentir uma queimação interna. Descobre que a água melhorava-o em instantes, mas depois piorava a situação. Queria apenas um antiácido para exterminar essa azia chata.
Durante algumas horas de viagem, eles chegam a capital e ficam estarrecidos. O mesmo acontecia aqui; foi quando João começa a bater a cabeça no volante e diz:
- Nossa cidade exporta a pesca para a capital, que exporta para outras cidades e esta-dos... Estamos perdidos...
Todos ficam aflitos e pensativos, não podiam desesperar-se neste instante, só iria piorar as coisas. Silvia agora entende que o local de pesca que estava contaminado e não so-mente os peixes que seu marido pescou. Fábio tem uma idéia e logo se expressa:
- Vamos para uma mata fechada ou uma floresta, lá não vamos ser atacados por nenhu-ma criança e podemos pensar numa solução mais calmamente.
- O garoto está certo, - diz João - vamos para uma reserva ambiental que tem próximo daqui.
João guia o carro com a sua azia e nervosismo aumentando. Silvia apenas desejava morrer agora, talvez pelas mãos de seu filho. Decide que irá matá-lo e depois se matar, mesmo que isso seja doloroso e a coisa mais difícil de sua vida. Não quer ver seu filho viver como um monstro...
Subitamente mãos quebram o vidro traseiro da caminhonete e agarram o rosto de Fábio e Sônia que estavam ao lado de João, que perde o controle do carro e capota passando por um barranco de terra. Silvia e João abrem os olhos ao escutarem um grito horroriza-do. Percebem que estão de ponta cabeça, parcialmente feridos e que já amanheceu. Sil-via estava com um leve corte no pescoço que sangrava. Sônia e Fábio já não se encon-travam no carro... Apressadamente os dois retiram-se do carro e presenciam uma cena lamentável; principalmente para Silvia...
Pedro estava à frente dos dois e seu corpo estava coberto do sangue dos corpos de Sô-nia e Fábio, mortos aos seus pés. O intrigante era que o jovem estava chorando e com um semblante tortuoso de dor e desprezo. Fita desesperado a face da mãe e dirige chorosa-mente a palavra a ela:
- O que foi que eu fiz mãe...? Quando me dei conta, eu estava deitado ao lado da Sônia e do Fábio... Eles estão mortos, meus amigos estão mortos...!
Silvia não pensa duas vezes e abraça o filho fortemente, caindo em prantos copiosos. O rapaz chora desvirtuadamente, sua mente é bombardeada com as imagens de seu assas-sinato. Sentindo-se um monstro, ele vocifera choroso:
- Eu matei meu pai...! Eu matei meus amigos...! E quase matei minha mãe...! Meu Deus! Que monstro eu me tornei...!
Com a raiva excessiva, o rapaz sente o braço esquerdo formigar e suas pernas perdem a firmeza e só não cai no chão porque sua mãe o segurara.
- Meu Deus! Meu filho, por favor não morra! Não...!
Tarde demais, Pedro sofre um enfarte pelo estresse excessivo e morre. Silvia chora sobre seu cadáver, desejando que ele volte. Descobre agora que não conseguiria cumprir sua promessa de matar seu filho. Mal agüentava ver seu querido falecido naquele mato com folhas secas. Sente-se a criatura mais miserável que este mundo já pariu.
João vê a triste cena e lembra-se de seus sobrinhos. Isso o irrita ainda mais e sua azia piora; voltando a suar. Quis consolá-la e sentou-se ao lado de Silvia e repousara sua cabeça sobre o ombro dela, que nem mais ligava para nada. Por ela, que um meteoro caísse na Terra e dizimasse toda a vida que existe, que não estaria nem aí. Sua vida já não existe mais. João começa a ficar confortável perto de Silvia e sua azia começa a amenizar. Sente seu coração disparar e um sentimento quente o envolve naquele instante. Sente uma incrível disposição e vigor, como que o contato com o corpo dessa mulher lhe presenteasse isto. Suas narinas que eram as mais agraciadas pelo aroma delicioso que exalava do pescoço da mulher. Deita-se ao lado dela e abraça-a por trás, sem que ela desse a mínima para essa atitude estranha. Cheira-lhe novamente o pescoço, aprovei-tando cada partícula de oxigênio e diz em seu ouvido:
- Você é tão atraente Silvia, seu corpo me deixa excitado... - João beija levemente seu pescoço e lambe-o com prazer, depois, com os olhos irritadiços, volta a falar - Princi-palmente seu sangue cheiroso e gostoso; que me deixa aliviado...

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O Porta Jóias de T’an-mo



Paulo é um homem bem sucedido, com a carreira em jornalismo televisivo em alta. Apresenta um telejornal em horário nobre numa emissora de maior audiência do país. Hoje era o seu primeiro dia das férias de um mês. Planejou uma viagem para Natal onde passaria as férias com sua esposa Catarina e sua queria filhinha Sofia.
Elas já estavam lá, num hotel cinco estrelas esperando por ele. Paulo tinha que resolver uma coisa antes. Sofia, sua filha, estava fazendo aniversário e precisava comprar algo bem bonito para ela, para não acontecer que nem no ano passado, em que ele lhe comprou uma Barbie e ela lhe disse que já estava grande o bastante para brincar de boneca.
Sabia da fome de música clássica de sua filha. Achava isso sensacional vindo de uma garota de 13 anos, pois outras da sua idade gostariam de algo mais moderno e “descolado”. Acha que esse gosto nasceu porque Catarina, sua mulher, colocava Mozart para Sofia antes de dormir. Ouviu dizer que as peças dele estimulam o cérebro, principalmente os de formação, no caso dos bebês.
Estava agora no Bairro da Liberdade e via o relógio de pulso constantemente, temendo perder o horário do próximo avião, que partirá daqui a 2 horas. Avista um koto – um instrumento musical de cordas oriental, semelhante a uma grande cítara – numa lojinha e logo vê que sua filha adorará esse instrumento.
A loja era pequena exteriormente, mas por dentro até que era espaçosa. Paulo analisa o koto e um carismático ancião oriental aproxima-se do rapaz.
- Gostou do instrumento senhor?
- Gostei. Acho que vou levar.
- Pelo senhor não ter nem perguntado o preço, farei um preço camarada pra você.
- Opa, preço camarada é comigo mesmo.
O senhor, contente por poder vender esse koto que estava empoeirando em sua loja, pega o instrumento para dar a saída com ele. Enquanto isso, outro objeto arrebata a atenção de Paulo. Um porta jóias bem delineado e com traços orientais muito bonitos. Abre-o para vê-lo por dentro e tem uma surpresa. Uma música harmoniosa oriental começou a tocar. Ficou fascinado por ela, despertando um sentimento quente em seu interior.
- Por favor senhor feche essa caixa!
Pelo susto, Paulo fecha o porta jóias e olha para o ancião que havia gritado com ele. O ancião leva a mão a testa e enxuga o suor súbito que brotou acima de seus olhos. Acalmando-se, o velho diz:
- Me desculpe senhor, é que minha filha morreu escutando essa música. Traz-me recordações...
O simpático ancião começa a lacrimejar e ficar trêmulo. Amava muito sua filha. Sensibilizado e até sentindo-se culpado por isso, Paulo fala:
- Eu não sabia senhor, me desculpe.
- Tudo bem, - responde o ancião – sou apenas um velho caquético. – recompondo-se, o senhor sorri ternamente e diz – já pode levar o koto agora.
Paulo volta a olhar para o porta jóias. Estava intrigado com ele e acredita que sua filha adorará isso; então ousa perguntar.
- Se não for muito inconveniente, esse porta jóias está à venda?
O ancião olha o objeto com um semblante de repugnância e responde-lhe:
- Não, não está a venda. Não posso vendê-lo.
Paulo fica desanimado, pagaria qualquer quantia para isso e iria oferecer, quando o ancião toma a frente na fala e diz:
- Posso dá-lo a você, como brinde por comprar o koto. Não quero lucrar com esse objeto... – respira profundamente, tentando conter o ódio que sentia desse artefato. O senhor reluta, mas sente que deveria avisá-lo disto – Esse porta jóias pertenceu a T’an-mo. Seu nome está gravado no fundo da caixa.
O jovem jornalista ri por dentro. Hoje certamente era o seu dia de sorte. Os dois senhores fecham negócio e Paulo sai carregando os dois presentes de sua filha. Ela ficará animadíssima.
O ancião fita o fundo de sua loja e sente o maior alivio de sua vida ao finalmente livrar-se do porta jóias maldito. Inconsolado, mergulha a face sobre a bancada, começando a chorar copiosamente.

O famoso jornalista Paulo Ferreira acaba de embarcar no avião, contente com as duas aquisições que conseguiu para a sua filha. Com certeza estava encantado com o porta jóias, ainda mais com sua música melodiosa com um tom misterioso. O estranho ancião não estava mais por perto para que o coitado sentisse a dor da perda, então ousa abrir o porta jóias e escutar toda a música. Seus olhos brilham de fascinação ao escutar novamente a música e olha-se no espelho que havia na tampa ao abrir. Sente um sentimento morno invadir seu peito e sua mente começa a mostrar seus desejos que queria naquele momento, olhando seu reflexo no espelho.
- Desejo uma ótima noite de sexo com minha mulher quando eu chegar.
Tais palavras escapam de sua boca sem que ele desse conta. A música acaba e toma um susto, pois via os outros passageiros olhando em sua direção. Percebe que na verdade fitavam devaneados para a caixa de música. Ao fechar a caixa, os passageiros olham para ele e Paulo percebe que deve ter falado alto aquelas palavras que saltaram de seus lábios. Como se nada tivesse acontecido, os demais passageiros voltam a fazer com o que estavam antes. Paulo mergulha seu corpo na poltrona e relaxa, tentando entender o seu devaneio. No mesmo instante aparece uma moça e senta-se ao seu lado. Uma mulher de pele negra e extremamente linda e de belas curvas.
- Vejo que o senhor é o meu companheiro de viagem. - diz a bela moça, acompanhada de um belo sorriso -.
Paulo senta-se melhor na poltrona e replica também com um sorriso:
- Me chamando de senhor eu me sinto um velho.
- Ai me desculpa, - diz a mulher, encabulada - é que eu fui criada assim, a sempre falar com uma pessoa o chamando de senhor ou senhora.
O carismático jornalista estica-lhe a palma da mão e diz:
- Sou Paulo Ferreira.
A mulher aperta a sua mão encantada e logo diz:
- Sabia que te conhecia de algum lugar, você é o Paulo Ferreira que apresenta o jornal das oito.
Paulo consente com a cabeça, sorrindo levemente. Ele odiava ser reconhecido, mas sendo por uma mulher tão atraente, isso não o abala muito. A moça fita-o admirada, enquanto que ele fica encabulado em ser encarado com tanta animação. A moça leva a mão à cabeça, notando a sua falta de memória.
- Me perdoe a indelicadeza, me chamo Heloísa.
O avião decola e no decorrer do trajeto Heloísa e Paulo conversam bastante, contando suas experiências profissionais e pessoais. Paulo descobre que Heloísa é modelo de uma grife internacional e está viajando para Natal para tirar as fotos da nova coleção de verão.
As horas passam e os dois nem percebem quando o avião pousa. Nisso as aeromoças os avisam e eles vão buscar suas bagagens no terminal.
- Me diverti muito com você Paulo.
- Eu também Heloísa, você é muito simpática.
- Obrigada.
Ambos fitam-se sem palavras e Heloísa querendo dizer o que estava entalado em sua garganta, toma coragem e fala:
- Pena que é casado, gostaria muito de poder almoçar um dia com você, para podermos conversar mais.
Paulo olha para sua aliança e ri abafadamente, dizendo:
- Isso não é problema, só iríamos conversar, não é?
- Certamente. - diz ela, também rindo -.
Ligando seu celular, Paulo lhe diz:
- Se me der seu número...
Desanimada, ela explica-lhe:
- Estarei cheia de trabalho nesses dias. A grife pega muito do meu tempo e não sei quando estarei livre.
Paulo consente com a cabeça, entendendo a situação profissional.
- Mas posso pegar o seu número e te ligar quando eu estiver livre.
- Tudo bem, mas às vezes deixo meu celular desligado, pois os toques me deixam irritados. Troco semanalmente os tons do meu celular. Se não for muito inconveniente, posso te passar meu e-mail também.
- Que isso, seria ótimo. Não saio da frente do meu laptop mesmo. Juntaremos o útil ao agradável.
Ambos riem e Paulo passa-lhe o número de seu celular e e-mail. Dentro do táxi que pegou, Paulo aprecia a vista dessa cidade maravilhosa. Lembra de ter conhecido Natal quando fez uma matéria sobre o carnaval de Macau, chamado "mela-mela", onde as pessoas seguem o trio elétrico e são lambuzadas em mel - uma coisa muito bonita de se ver, são sujas e saem felizes -.
O céu já estava escuro e apitava 23h02min em seu relógio. Mal via a hora de encontrar com sua filhota - como chamava carinhosamente sua filha - e sua mulher, com quem teve a sorte grande de casar.
Chega ao hotel onde elas já estavam e sobe até o quarto. Provavelmente as duas aproveitaram muito a praia que tem perto dali, já que alugou uma suíte próxima a uma. Sua filhota adora praia. Verifica o quarto de sua princesa e a vê empacotada no mundo dos sonhos. Não acredita que perdeu o aniversário de sua filhota. Não deixa por menos, ousa acordá-la. Ao vê-la abrir os olhos cansados ele coloca os presentes encima da cama e sorridente canta:
- Parabéns pra você,
Nessa data querida...
- Pai, você chegou! - diz a menina animada, abraçando-o -.
- Muitas felicidades,
Muitos anos de vida, eh...!
- São pra mim?! - pergunta animada -
- É claro querida, os dois.
Sofia analisa o koto e começa a dedilhá-lo, testando o som. Animada, abraça o pai, agradecendo-o. No mesmo instante ela fita admirada a caixa de músicas e torna a abri-la, entretanto não sai a música melodiosa que Paulo ouvira. Não sai nenhum som. Paulo pega o objeto em mãos e lamenta:
- Caramba, acho que quebrou. Esse porta jóias tocava uma música tão bonita.
Sofia sorri ternamente e fala:
- Tudo bem pai, o que vale é a intenção.
Satisfeito e orgulhoso com sua filha, beija-lhe a testa macia e a coloca para dormir. Pedindo que ela dê a devida atenção aos seus presentes amanhã, que terá bastante tempo. Sua obediente filha acata a ordem e põe-se a dormir.
Paulo caminha fatigado até seu quarto e vê sua linda mulher dormindo calmamente. Não ousaria acordá-la por nada nesse mundo, gostava de vê-la dormir tão confortavelmente que acha um pecado acordá-la. Tira a roupa que lhe pesava em seu corpo e coloca um pijama confortável, e deita-se ao lado dela. Um instante se passa e Catarina abraça-o por trás, beijando-o a nuca.
- Você demorou...
- Desculpe amor, te acordei?
- Só estava cochilando, não consegui parar de pensar em você...
Ele arrepia-se, pois sua mulher apalpa-lhe as genitálias e desce os centímetros da cama para lhe fazer um agrado. Paulo não iria dispensar um carinho desse e engaja-se no prazer.

No quarto de Sofia, o porta jóias toca sua música melodiosa, com sua tampa aberta...

Amanhece e Paulo acorda contente, beijando as costas de sua esposa. O sexo de ontem foi maravilhoso. Ela fez tudo o que ele queria sem que este o pedisse, estava impressionado. Levanta-se para pedir serviço de quarto e tomar um bom banho.
Após tomarem café da manhã, suas duas rainhas o mostram a praia maravilhosa que havia próximo ao hotel. Sofia mostrou-lhe o porta jóias e ele estava tocando novamente. Ela gostou muito da música e resolveu levar o porta jóias para guardar dentro dela as conchinhas que achasse na orla da praia. O lugar era praticamente desolado, apenas poucas pessoas estavam no lugar. Paulo acha perfeito. Um lugar bem sossegado.
Estendem o guarda-sol e Sofia vai nadar um pouco, enquanto que Paulo passava bronzeador em Catarina.
- Essas férias não podiam ser melhores, estou adorando. - declara Catarina -
- Eu também, a noite de ontem foi maravilhosa.
Catarina sorri e vendo o porta jóias que seu marido deu a sua filha, pega em mão e analisa-o.
- Lindo porta jóias.
- Você achou? Espere até você abrí-lo.
Catarina abre o porta jóias e fica encantada com a música e devaneadamente torna a olhar-se pelo espelho do objeto.
- Não é lindo?
Ignorando tudo a sua volta por estar hipnotizada pela música e seu reflexo, ela sussurra:
- Queria ser amada de verdade...
- O que disse querida? - indaga Paulo, estranhando-a -.
Um grito súbito arrebata a atenção dos dois. Era de sua filha Sofia, que ao longe se arrastava pela areia. Os dois correm apavorados e vêem um casal socorrendo a criança. O homem que a socorreu olha para os pais em corrida e clama:
- Ela precisa ir ao hospital, ela foi ferroada por uma arraia.
A ferroada podia ser vista no calcanhar da garota, que ficou arroxeada e ela gritava muito de dor. Paulo a pega no colo e pede para Catarina ligar para um hospital. O homem, querendo ajudar, diz:
- Posso levá-los de carro, ele está estacionado perto daqui.
- Isso, - diz a esposa do homem - a ambulância vai demorar a chegar.
Sensibilizada com a caridade do casal, Catarina agradece, emocionada. Sem demasiada demora, eles seguem para o carro do casal e vão para o hospital.
Na chegada, os médicos colocam Sofia na emergência. O homem que os ajudou nada mais é que um médico desse hospital que coincidentemente estava de férias e tomou conta para que Sofia fosse bem cuidada. Seu nome era Maycon e o de sua mulher era Denise. Paulo e Catarina agradecem-lhes pela ajuda.
- Que isso, não foi nada. - diz Maycon - é o meu dever.
- Mas agradecemos mesmo assim Dr. Maycon, nossa filha é muito preciosa para nós. - insiste Catarina -
- Me chame apenas de Maycon, tudo bem? O Dr. está de férias.
Catarina consente com a cabeça agradecendo-o. Paulo não queria ser mal-agradecido, mas sua filha era mais importante.
- E como minha filha vai ficar?
Maycon arqueia as sobrancelhas num tom preocupado e diz:
- Vou ser franco com vocês, ela não está nada bem.
Paulo agarra-lhe pela camisa e nervoso fala:
- Como não está nada bem?! Foi só uma arraia droga!
Catarina intervém sobre o marido e o faz largar o homem que os ajudou.
- Que isso Paulo, ele não tem culpa de nossa filha estar assim!
O jornalista analisa o bom senso e pede desculpas ao jovem médico.
- Tudo bem Sr. Paulo, é uma situação delicada e não posso culpá-lo por estar aflito.
Denise aproxima-se de Paulo e Catarina e diz:
- A arraia pode parecer uma criatura inofensiva e até que ela é; só ataca quando está acuada, como forma de defesa. Muitas pessoas pisam sem querer em arraias por que elas se camuflam sobre a areia e a criatura acaba ferroando.
- Denise sabe o que fala, ela é bióloga marinha. - acrescenta Maycon - E o caso é que Sofia, coincidentemente é alérgica a ferroada de arraia nos exames que fizemos, por isso que ela passa tão mal.
- Óh meu Deus, minha filhinha vai morrer! - diz Catarina, levando as mãos ao rosto em prantos -.
- Não fale besteiras mulher! Nossa Sofia não vai morrer, não vai morrer, entendeu?! - diz Paulo, segurando-a pelos ombros -.
Maycon é chamado para ver o caso da menina por um interno e ele vai. Denise senta-se ao lado de Catarina e consola-a com um ombro amigo, enquanto que Paulo senta-se ao lado das duas, fitando o porta jóias que trouxe consigo. Olhando o artefato lembra do sorriso de sua criança ao vê-lo, não queria guardar uma memória semelhante ao que o dono da loja teve com sua filha. Abre a caixa e escuta a melodia. O mesmo transe apossa-se de sua mente e inconscientemente já estava olhando-se pelo reflexo e seus lábios proferem:
- Desejo que minha filha saía sem complicações...
Maycon estava na U.T. I vendo o caso de Sofia. Seu corpo não estava resistindo ao veneno e sua pulsação estava fraca. Rapidamente seus batimentos chegam ao zero. O médico em férias prepara o desfibrilador para tentar ressuscitar a menina. Passa o gel e tira o biquíni dela, preparando-se para o ato, quando milagrosamente, os olhos da menina se abrem e sua pulsação estabiliza. Fica pasmo com a situação e ao vê-la tentar levantar-se da cama de hospital, ele a impede, dizendo que ainda pode ter uma recaída.
- Não, eu estou bem.
Sofia salta da cama colocando seu biquíni, como se nada tivesse acontecido. Incrivelmente o arroxeado da ferroada havia desaparecido em seu calcanhar, porém seu semblante estava muito sério e seus olhos estavam vazios como um buraco negro. Sem mais, a menina começa a caminhar pelo corredor e bestificados, Maycon e os enfermeiros que o ajudavam começam a segui-la. Cheios de dúvidas.

Paulo fecha a caixa e nota algo familiar, as pessoas à volta estavam olhando fixamente para a caixa, como se estivessem em transe. Até sua esposa parara de chorar para fitar o objeto, junto de sua nova amiga Denise. E como acontecera no avião, depois que a música acaba, todos voltam a fazer o que faziam. Catarina volta a chorar, Denise a dar-lhe ombro, as balconistas analisando as fichas...
No mesmo instante as luzes oscilam e dá uma queda de energia, deixando todo mundo na escuridão. Os médicos ficam loucos com isso, pois no andar de cima existem pessoas respirando por aparelhos, e não são poucas. Ficam loucos mesmo porque no hospital - particular - tem gerador, para evitar esse inconveniente, só que a maquinaria não queria funcionar e não havia nada de errado com ela. Acontece uma grande correria para socorrer os internados em estado grave. Paulo e Catarina ficam mais aflitos com o bem de sua filha, quando seus corações são agraciados pela imagem de sua princesa, andando como se nada tivesse acontecido. Os pais abraçam-na como se nunca mais tivessem a visto.
- Oh filhota você está bem, graças a Deus! - declara Paulo, aliviado -.
- Que bom filhinha...
- Que isso gente, estão me fazendo passar vergonha.
Os pais mimam a garota, enquanto que a energia volta devido ao gerador que volta a funcionar. Paulo e Catarina vêem Maycon e agradecem-no por cuidar de sua filha. O médico pasmo com a melhora repentina da garota apenas aceita os elogios da família. Paulo propõe-se a pagar pelos honorários do tratamento, não aceitando recusa. Catarina sentira um vinculo forte com Denise e as duas pegaram o número de telefone uma da outra. Satisfeitos com a melhora de sua pequenina, os dois saem do hospital.
Um interno do hospital conversa com outro e Maycon capta a conversa sem querer:
- A porcaria do apagão matou três das pessoas que respiravam com ajuda dos aparelhos. Lamentável...

Passam três dias depois do susto. Catarina e Denise concretizaram uma forte amizade. A única coisa boa que ocorreu com a situação desastrosa. Sofia já estava bem melhor, sem nenhuma recaída. Agora estava em seu quarto tentando aprender a tocar o koto. Catarina estava na casa de Denise, uma mansão perto do hotel. Paulo preferiu ficar no hotel pesquisando um tema muito interessante. "T'an-mo"...
Acha estranho, pois na pesquisa que fez pela internet viu que T'an-mo é uma criatura folclórica chinesa que realiza desejos. O estranho ancião disse que esse porta-jóias pertenceu a T'an-mo. Analisa que deve ter sido um Zé ninguém na China para não constatar na internet ou o velho está caduco em se referir a um demônio chinês. "Invencionice Cultural" como falava o próprio Paulo. Mas que existe uma coisa muito estranha nesse porta-jóias ele não pode negar. Fita o artefato bem a sua frente, onde estava repousada sobre a escrivaninha. De repente ocorre um apito no computador. Seu correio eletrônico avisa-lhe que uma nova mensagem lhe foi enviada.
"Oi Paulo, tudo bem? Estou livre amanhã, então podemos marcar aquele jantar, que tal? :)"
"Ligue para o celular abaixo e então marcamos. Beijinhos, beijinhos, tchau, tchau... ;)"
Paulo fica contente e liga para ela no mesmo instante, marcando o encontro. Encara o porta-jóias e ousa brincar com ele. Abre-o e escuta a música melodiosa, olhando para seu reflexo no espelho.
- Desejo transar com a Heloísa.
No mesmo instante a música cessa. Paulo sempre acha isso estranho. Sempre quando fala alguma coisa ao se olhar no espelho a música pára. Fecha-a e a deixa de lado, começando a rir do "poder" de "T'an-mo". O mestre dos desejos...
O dia chega e ele tem um encontro agradável com Heloísa, que descobriu ser mais simpática do que já a achava - e mais sensual do que antes -. Ele a acompanha até o hotel em que ela estava hospedada e os dois ficam em frente, encarando-se sem jeito.
- Então; acho que é minha hora. - diz Paulo -
- Bem... - fala Heloísa, um tanto sem jeito - Iria te convidar para entrar para você ver o meu primeiro book de que te falei, mas já que tem que ir embora...
- Não, por mim tudo bem, eu adoraria. Só pensei que você fosse querer descansar, então...
- Já que você pode, então vamos entrar logo.
Paulo consente e entra com ela, pegando o elevador. Chegando ao andar, os dois saem do elevador aos beijos e amassos, chegando até a suíte de Heloísa que era bem em frente ao elevador. Ela abre a porta com Paulo a beijá-la copiosamente na nuca e costas e os dois entram aos beijos voluptuosos. Não esquecendo de fechar a porta. Logo, os dois caem na cama, ainda beijando-se loucamente.
- Tem camisinha? - pergunta Paulo, afoito -.
- Claro que tenho bobinho, sou modelo.
Ela abre a gaveta do criado mudo e pega uma das camisinhas espalhadas e entrega a Paulo. Querendo provocá-la, ele diz:
- Esse é o seu book?
- Cala a boca e vem logo, ou me lembro que é casado e me arrependa disso.
No mesmo instante Paulo pula em Heloísa e os dois aproveitam a diversão...

Após o momento que os dois tiveram Heloísa não se sentiu bem por ter feito com que Paulo traísse sua mulher e o pede que não mais a procure. Paulo fica um tanto sem jeito com a situação também. Nunca traiu sua mulher na vida. Heloísa era excessivamente atraente, mas não era para ele ter feito isso. Nunca fez mesmo com mulheres com os mesmos atributos dessa simpática modelo.
Paulo concorda em não vê-la mais. Para o bem dos dois. Sai da suíte dela e segue para casa. Nisso, Catarina esperava-o, pois já era quase de madrugada e seu marido ainda não chegara. Tinha um assunto muito sério a tratar com ele.
Até que ele chega e depara-se com sua mulher a sua espera. Ao refúgio das sombras, com a pequena luminosidade de um abajur. Paulo olha para seu relógio de pulso e vê que já é meia-noite, sendo que saiu às sete da tarde. Sabia que estaria encrencado então prepara o seu cinismo jornalístico.
- Olá amor. Por que ainda está acordada?
- Não sei, deve ser porque estamos de férias e devo aproveitar ao máximo.
Paulo sabia. Quando Catarina estava irônica era porque está muito zangada. Ele tenta beija-la, mas ela levanta-se do sofá, esquivando da investida e logo saca uma folha de papel, lendo-a em voz alta:
- “Oi Paulo, tudo bem? Estou livre amanhã, então podemos marcar aquele jantar, que tal?” Depois vêm um sorrisinho com dois pontos e parênteses e na outra linha: "Ligue para o celular abaixo e então marcamos. Beijinhos, beijinhos, tchau, tchau.” Reticências, ponto e vírgula, parênteses, simbolizando um smiley sorrindo e piscando.
Ele fica mais branco que a celulose que Catarina empunhava. Não entende como ela conseguiu isso, mas tinha que ser cínico até onde dava.
- O que é isso? – fala ele, com naturalidade. Com uma calma como se nunca tivesse visto isso –
Com o mesmo sarcasmo de antes, ela responde-lhe:
- Vi isso no seu e-mail aberto. Achei muito interessante e resolvi imprimir para poder mostrar pra você. – ela volta a olhar para o papel e diz – Muito simpática essa Heloísa, e muito bonita também. Vi algumas fotos do book dela, olha só.
Catarina tira do bolso outro papel, em que estavam algumas fotos minimizadas do book de Heloísa.
- Consegui na empresa que a gerencia. Eles têm que deixar o book no site para que alguma grife ou estilista possa ver as suas garotas.
Paulo fica estarrecido. Tinha certeza absoluta que desligou o computador antes de sair e que excluiu esse recado até da lixeira. Dizer mentiras não o ajudaria nesse instante, muito menos a verdade. Pioraria ainda mais.
- A conheci no aeroporto e só fomos jantar...
- Não precisa me explicar Paulo. – diz Catarina – Só quero que cumpra com a promessa que fizemos a nossa filha. Que passaríamos às férias em família. Nosso casamento sempre foi uma farsa, você sempre amou e ama outra mulher, mas devo te lembrar que temos uma filha e que por isso, por enquanto, viveremos como uma família... Depois dessas férias, tomamos nosso próprio rumo.
Catarina segue chateada para o quarto e Paulo a segue, tentando convence-la de que não era verdade.

Paulo acorda de manhã, no sofá. O mínimo que conseguiu foi uma forte dor de cabeça por ficar a madrugada inteira conversando com Catarina, que sempre lhe dava respostas ferinas com um sarcasmo escancarado. Dormiu na sala para não começarem a discutir feio e acordar sua filha.
Põe-se a matutar. Conseguiu uma noite maravilhosa com Heloísa, como havia pedido ao porta jóias. Como também, no aeroporto, pediu que tivesse uma noite de sexo com sua esposa e conseguiu. Essas duas coisas - acredita ele - eram inevitáveis. Com certeza sua mulher iria ter uma noite com ele e no caso de Heloísa, teve uma química muito forte que os dois não puderam resistir. Apenas o caso de sua filha era o que o deixava intrigado. O Dr. Maycon disse que a recuperação de Sofia foi muito estranha. Ele disse que o coração dela parou e perdeu a pulsação. Subitamente ela levantou-se da cama como se nada tivesse acontecido e pôs-se a andar.
Também percebeu que ocorreram coisas estranhas através das boas, mas crê que sejam apenas coincidências. Resolve ver sua adorada filhota, enquanto ela dormia. Admira-a da porta, seu doce rostinho angelical dormindo que nem um querubim.
Paulo sai um pouco, carregando o porta jóias. Mais parecia que ele comprou o presente para si próprio do que para sua filha, mas esse artefato estava intrigando-o muito. Pára num restaurante simples e pede um café para acompanhar a leitura sobre T’an-mo que imprimira do site. Entretanto não conseguia encontrar nada sobre esse porta jóias. Estava completamente perdido. Pensa que o único modo de testar esse “poder” será seguindo os passos.
Abre o porta jóias e a música penetra nos ouvidos de todas as pessoas ao redor. Paulo fez questão de observar todas as pessoas em volta e como esperado, estavam hipnotizadas pela música. Ele mesmo resistia para não ser hipnotizado pela música. Esse som deve atingir a região neural que controla os sentidos. Entretanto tinha que testar o porta jóias. Olha para o espelho e faz o teste:
- Desejo que meu café saia por conta da casa.
De imediato a melodia cessa e subitamente, uma garçonete que estava distraída pela música derrama todo o conteúdo da bandeja que carregava encima de Paulo. No mesmo instante ele levanta-se e tentar conter a ardência que os líquidos quentes estavam lhe fazendo. A garota pede mil desculpas por isso e Paul tenta acalma-la dizendo que não foi nada. Um homem vem logo para acudi-lo e lhe diz:
- Me perdoe senhor, ela é nova aqui. E pelo que vejo muito desastrada.
- Isso acontece não se preocupe.
Por mais que dissesse isso, não era o que sua pele assada lhe dizia. O homem olha para a mesa em que Paulo estava e lhe diz:
- Para compensá-lo o café fica por conta da casa.
Paulo fita-o assustado e logo vê que a música volta a tocar. Todos voltam à atenção para a música e esquecem de sua realidade. O dono do restaurante, a garçonete e os demais. Todos de olho no porta jóias. Um tanto temeroso Paulo pega o porta jóias e sai do recinto.
As pessoas voltam ao normal e ao que estavam fazendo. O dono do restaurante olha a pobre garçonete com seus olhos fulminantes e soando baixo, diz:
- Pegue suas coisas e dê o fora daqui. Está demitida.

O jornalista passou os últimos quatro dias encabeçado nessa questão. Catarina saía mais do que ficava junto dele. De vez em quando levava Sofia, de vez em quando ia sozinha. Provavelmente para fofocar com a amiga que arrumou aqui; Denise. Voltava sempre com um sorriso disfarçado no rosto, mas isso não o incomodava nem um pouco. O porta jóias era o mais importante.
- O que está fazendo pai?
Sofia dessa vez ficou em casa e preferiu não sair com sua mãe, desejando passar um tempo com o seu pai. Paulo estava pesquisando arduamente na internet sobre alguma coisa que o pudesse ajudar a entender essa complicação. Munido também de vários livros de contextos orientais.
- Só fazendo uma pesquisa, querida.
Sofia tosse forte, tirando a atenção de Paulo em sua pesquisa.
- Tem tossido muito nesses dias filhota, sua mãe te levou para o Dr. Maycon examinar para saber o que é?
- Ela levou antes de ontem quando foi na casa deles.
Paulo resolve dar um pouco de atenção para a sua filha. Viu que já estava ficando obcecado por esse assunto e esquecendo de seu bem mais precioso. Coloca-a em seu colo e beija seu rosto.
- O que tem de legal lá? Pelo que vi é muito espaçoso.
A garota demonstrava um mísero interesse nesse tópico, mas já que foi perguntada, responde:
- Lá é bem espaçoso, que nem a nossa casa no Rio, mas é muito chato ficar lá.
- Por quê?
- Ah, eles não tem nenhuma criança da minha idade, apenas uma sala de jogos espaçosa. Às vezes minha mãe some com o Dr. Maycon e fica a Denise comigo. Tem vezes que a Denise some com minha mãe e fica o Dr. Maycon comigo. E tem vezes que os três somem e me deixam brincando sozinha no salão de jogos.
Paulo franze o cenho, completamente inconformado com essa história absurda. Como Catarina seria tão irresponsável em deixar a filha sozinha, e sempre sumindo com um dos donos ou até mesmo com os dois. Não queria pensar besteira, mesmo nem imaginando do que seja realmente o caso. Iria ter uma conversa bem demorada com ela, quando chegasse.
O homem repensa e decide que não vai esperar pela mulher, irá até onde a dita cuja se encontra. Pede que sua filhota se arrume, pois tirará essa história a limpo. Os dois pegam um táxi e encabeçam a partida para a casa do dr. Maycon.
Enquanto as ruas voavam pelas janelas do automóvel de tempo alugável, o jornalista e sua filha admiravam a paisagem bonita que esse estado tem a oferecer.
Enfim chegam a tão esperada casa. Que na verdade era um casarão. Os seguranças da família Pinheiros, que já conheciam e gostavam da linda Sofia os deixam entrar e os levam para dentro da mansão.
Plenamente acomodados, os empregados da família levam-nos para a cozinha e servem à adorada Sofia com sorvete de passas. Paulo via o contentamento de sua filha ao degustar dessa iguaria gelada, entretanto estava incomodado pela ausência dos donos da casa e de sua própria mulher. Tinha que investigar.
- Onde posso encontrar o banheiro?
- Siga o corredor lateral e vire a esquerda. É próximo as escadas que levam aos quartos.
Quartos. Essa era a palavra mágica que queria escutar. Agradece a informação que a cozinheira forneceu-lhe e deixa sua filhota aos cuidados dessa mulher. Tinha que tirar suas dúvidas maçantes.
Sorrateiramente sobe as escadas sem que ninguém o veja. Queria saber como eram a família Pinheiros pelos objetos que portavam no quarto. Leu um artigo que expunha que os objetos íntimos, do quarto precisamente, demonstram uma grande parte da personalidade de uma pessoa ou casal. Sabendo se é uma pessoa ou casal organizado ou não, e assim por diante.
Tudo parecia normal. Vários porta retratos com fotografias do casal e de alguns familiares e amigos, quem sabe. Olha debaixo da cama e vê pantufas e algumas poeiras. Provavelmente as faxineiras ainda não limparam por hoje. Apenas descobriu um “brinquedo” cilíndrico que algumas mulheres usam em si mesmas, mas nada que seja fora do normal já que Paulo não encara esse tipo de coisa como falta de moral. Seria hipócrita, falso moralista se achasse isso.
O homem levanta-se exausto, completamente inconformado em não achar nada no quarto. Até mesmo os donos e sua própria mulher que deveriam estar na mansão, mas não se encontram. Segue para a estante e verifica os livros que eles tinham. Constata que o gosto literário deles é mais para o estilo clássico. Nenhum autor contemporâneo fazia parte de sua miscelânea. Porta em mãos Ulisses, de James Joyce. Um livro antigo e de capa interessante. Muito bom, lembra de ter lido duas vezes.
Devolve-o a seu lugar, até o final da brecha. Fica cismado, pois ao colocar o livro fez com que a capa dura se chocasse com a madeira da estante, provocando um som oco. Retira o livro novamente e bate na madeira para constatar. Certamente era um som oco.
Coloca sua atenção na estante e a vê em todos os cantos. Estranha, pois vê uma fenda estranha por detrás do objeto. Determinado, começa a empurrar a estante e nisso escuta um estalo de algo se rompendo, descobrindo uma coisa interessante também. Havia uma passagem secreta ali...
Sem pensar duas vezes ele entra e vê uma maçaneta nas costas da estante. Servia para fechar e abrir o lacre que Paulo forçosamente rompeu. Havia uma escadaria que levava até o sótão e cautelosamente para não fazer muito barulho, ele sobe a escada.
Paulo presencia a coisa mais grotesca que seus olhos já viram. Arrepiasse com a visão do inferno na Terra. Era uma orgia satânica com intenções sado e maso. Catarina e os donos da casa, cujo eram o centro dessa perversão asquerosa ficam surpresos com a aparição repentina de Paulo. Catarina tenta aproximar-se para tentar explicar, mas horrendamente enojado Paulo some dali, carregando sua filha consigo.

Anoitece. Sofia coloca o travesseiro na cabeça para tentar dormir, entretanto falha nesse objetivo. Desde que sua mãe retornou da casa dos Pinheiros ela e seu pai discutiam incessantemente. Queria muito que isso acabasse...
- Como pôde Catarina...?
- Como pude?! Do mesmo modo que você transou com aquela modelo piranha! Não venha se fazer de inocente, pois você também me traiu!
Paulo abre os braços, tentando se segurar e fala:
- Quer comparar agora? Você me traiu primeiro e muitas vezes, sendo que eu fui apenas uma vez. Deixava sua filha a Deus dará e fazia aquela... – era difícil dizer algo na qual o enoja – coisa...
- Não venha dar uma de puritano Paulo, você tinha diversos vídeos desse gênero. Negue isso.
Paulo não estava acreditando na discussão que estava tendo com sua mulher. Totalmente inaceitável.
- Está percebendo o que está dizendo mulher?!
- Sim eu não sou surda seu babaca!
Irritado Paulo se controla para não voar nela e matá-la. Estava num ataque de nervos. Pega sua bolsa e tentando esfriar a cabeça para não fazer uma burrice, ele diz:
- Vou sair para esfriar a cabeça, pois estou quase enlouquecendo de ódio.
Então o jornalista segue para a saída, mas Catarina não deixa barato e o segue até a porta, mesmo depois de ele cruzá-la.
- Isso é só desculpa para ir transar com aquela vagabunda! Pelo menos eles fingem que me amam. Não preciso mais de você.
Paulo não olha para trás, pois estava prestes a estourar de ódio. Apenas caminha mais rápido que antes.

Em seu quarto Sofia chorava copiosamente, sendo interrompida pelas suas tosses crônicas...

Minutos mais tarde ele pára no mesmo restaurante do de hoje de manhã e pede uma vodca para aliviar a tensão. Sua cabeça iria explodir se não fizesse nada para se acalmar. Molha a garganta com a bebida e pede outra rodada.
Enquanto espera pela outra vodca ele tira o porta jóias da bolsa que carregou antes de sair de casa. Olha decidido para esse artefato adornado e coloca-se a matutar. Crê veemente que esse objeto maldito atende seus desejos e estava propenso a fazer um. Quer tornar o pensamento de sua mulher em realidade.
Bebe a outra rodada, paga a conta e sai para o seu destino...
Paulo estava em frente ao hotel em que Heloísa estava hospedada. Iria fazer exatamente o que sua esposa já pensava que ele iria fazer.
Com o porta jóias em mãos ele o abre e a melodiosa música começa a tocar. Nisso, ele segue todos os passos requeridos.
- Quero que Heloísa esteja com muita saudade de mim.
Instantaneamente seu celular começa a tocar. Olha no visor e vê que era um número que ele não conhece. Sem muito o celular para de tocar. Sem hesitar Paulo liga para o número da chamada perdida. Espera com paciência, pois parece que quem o ligou não queria atender. Depois de muito tempo a pessoa atende numa voz chorosa:
- Me perdoe Paulo, sei que prometemos não nos ver mais é que... Estou tão sozinha... - Heloísa começa a chorar sentidamente. O próprio Paulo sente-se culpado em envolvê-la em toda essa confusão – Esqueça Paulo, é que estou numa depressão horrível e... Não devo te preocupar com minhas besteiras, até logo...
- Espere! – exclama Paulo, conseguindo mantê-la na linha – Estou aqui perto, então vou dar uma passada aí. Não se preocupe, não vou demorar muito.
Sem mais o Sr. Ferreira entra no hotel...

Com o sol ostentado no céu Paulo sai do hotel sentindo-se pior que antes. Deixou Heloísa em depressão por causa dos seus egoístas desejos ao porta jóias maldito. Apenas aumentou o ódio maçante que estava sentindo dos Pinheiros. Eles é que arruinaram a sua vida!
Movido pela cólera ele chega ao hotel em que estava hospedado e pega a sua arma pessoal, saindo logo em seguida.
Sofia tentou alcançá-lo, mas sua tosse não a deixava prosseguir. Cobre a boca para tentar abafar o som alto de seu ataque, é quando sente algo quente em sua mão, escorrendo até seu pulso. Era sangue...!

Paulo não tem muita dificuldade em se infiltrar na mansão dos Pinheiros. Os empregados provavelmente não sabiam ou fingiam não saber o que ocorreu em relação a ele. O jornalista segue para o quarto do casal e como esperava eles não estavam lá. Passa pela passagem secreta e os encontram deitados na cama da devassidão. Dormindo em seus lençóis cobertos em luxuria onde perverteram todas as morais. Sem hesitar, o jornalista executa dois tiros, um em cada. Fica satisfeito em ver o sangue manchar os lençóis.
Para o seu desespero vê Maycon sair apavorado do que é provavelmente o banheiro.
- O que foi que você fez?! – exclama o médico –
Ainda não acreditando em seus olhos Paulo vai até a cama para constatar de quem são os corpos. Ao tirar o lençol sente um tremendo remorso. Era Catarina, sua esposa e mãe de sua filha, já sem vida. Estava furioso com ela, mas não ao ponto de querer matá-la. Lágrimas de lamentação escoam pelos seus olhos.
- Seu desgraçado!
Bang! A sua arma dispara em reflexo a investida de Maycon contra ele. Foi um tiro certeiro que atingiu a boca do médico, derrubando-o no ato. Paulo constata e vê que ele está morto. Como sua esposa e Denise. Desaba no chão, inconformado. Não acredita no que acabou de fazer. Nervoso, joga sua bolsa pro outro lado e de dentro dela sai o porta jóias, rolando pelo chão.
Impressionantemente o artefato fica em sua posição original e lentamente a tampa se abre, ressoando a música de sempre. É quando Paulo percebe os movimentos no casarão, que estavam agitados. Desse lugar secreto dava para escutar nitidamente o que ocorria no lado de fora ou era o porta jóias que o estava favorecendo? Estava ciente que os empregados ouviram os tiros e que procuravam pelos indícios de tal incidente. Sem opção Paulo apela para o porta jóias e segue o ritual de sempre, fazendo seu pedido:
- Quero que Catarina volte à vida...
Estranhamente a melodia não pára e nem Catarina ressuscita. Provavelmente existiam alguns limites que o porta jóias não podia passar. Em prantos, o jornalista apela:
- Quero sair impune disso tudo...
Como mágica a melodia cessa, não ressoando mais pelo quarto. Paulo olha para trás e vê que a arma do crime estava na mão do assassinado Maycon. Certamente suas digitais foram removidas por causa do desejo, mas estava receoso em relação aos empregados. Subitamente escuta diversos disparos de arma de fogo que pareciam nunca acabar. Entretanto acaba; e com isso vem uma forte sensação em Paulo para ele sair de lá rapidamente. Movido por isso, ele segue sua intuição.
O Sr. Ferreira fica aterrorizado com a chacina. Todos os empregados da mansão estavam caídos em seus próprios sangues, que vazavam das perfurações que tinham pelo corpo. Perto de seus corpos havia diversas cápsulas de bala e vários pentes descarregados. Irá parecer que deu um surto em Maycon e ele saiu executando todos os que via pela frente. Horrorizado, pega o seu carro e sai dali o mais rápido que pode.

Chega ao hotel completamente transtornado. Todas aquelas pessoas inocentes morreram por sua culpa. Nesse instante queria abraçar a sua filha, pois ela era a única coisa que ainda o ligava a sua humanidade. Infelizmente o pesadelo estava apenas começando. Para o terror de sua alma sua amada preciosa filhota estava deitada em sua cama, cadavericamente pálida e com o rosto e o vestido coberto em sangue.
Não! Foi o único grito desesperado antes dele se atirar ao chão, próximo a sua princesinha. Tentava acordá-la, mas era tudo vão. A menina não mais pertencia ao mundo dos vivos.
Paulo queria morrer. Queria ir no lugar dela um milhão de vezes, mas a única coisa que podia fazer agora é chorar, chorar, chorar...
De repente uma melodia odiosa começa a tocar. Só de escutá-la a gengiva do jornalista sangrava de tanto que ele apertava seus dentes um contra o outro, em profunda cólera. Torna a olhar para a sua bolsa e inexplicavelmente o maldito porta jóias estava no meio do quarto, com a tampa aberta e ressoando a agora asquerosa música.
- Isso tudo é sua culpa...!
Com muita fúria ele pega o koto que dera de presente para a sua filha e começa a massacrar o porta jóias. Bate freneticamente até se sentir minimamente satisfeito. Ofegante, observa os pedaços do koto e do porta jóias esparramados pelo quarto.
Suando frio ele presencia todas as peças do artefato amaldiçoado se juntando e reconstruindo-se. Logo o porta jóias estava novo em folha, como se nada tivesse acontecido a ele.
Apavorado, Paulo estoura o objeto na parede e mais rápido que da primeira vez ele se reconstrói. A bizarrice continua, pois a parede começa a expiar sangue e deste formam-se letras chinesas, que logo se convertem numa frase em português:
- Não adianta escapar de seu destino. Irei persegui-lo até que morras e assim caçarei teus filhos, e os filhos de teus filhos...
Completamente desesperado e mentalmente frágil, Paulo vocifera, em prantos:
- Você já me matou e matou minha única filha!
Desorientado ele sai do quarto e tenta escapar desse lugar maldito. Entretanto o porta jóias sempre aparecia a sua frente. No saguão do hotel, na entrada do hotel, na piscina, na praia... As pessoas que o viam balançavam as cabeças, lamentando ter que presenciar esse louco correndo e fazendo baderna.
Corria pela orla da praia e sempre deparava com o objeto amaldiçoado bem à frente, repousado na areia. Sempre que o passava o porta jóias sempre aparecia à frente. Certamente atacou o pertence de T’an-mo diversas vezes no mar, mas não adiantava, dava sempre no mesmo.
Cansado de fugir pára bem próximo do artefato e fita-o com desespero. Vê que próximo dali tinha um pequeno barco pesqueiro. Sua mente deturpada só consegue pensar numa só solução. Pega o porta jóias e corre até o barco.
Rema para bem longe. Até onde não pudesse ver terras no horizonte. Decidido a destruir toda a sua culpa e mágoas. Ele atira-se no mar, com objeto nas mãos. Morrendo levando esse artefato maldito privará que pessoas inocentes se firam não sabendo utilizar esse poder demoníaco. Paulo caía como uma pedra, chegando cada vez mais fundo na imensidão azul. Uma enorme pressão se apossa em sua cabeça pela falta de oxigênio no corpo. Em seu momento de morte deseja que todas as pessoas ao qual feriu nessa ambição miserável possam o perdoar...

13 anos depois...
Duas crianças brincavam na parte rasa da praia. Optaram pelo pega-pega como fonte de diversão. O menino corria mais para o fundo, tentando escapar das garras de sua irmã gêmea:
- Vem pra cá Paulo, a mãe disse para não irmos para o fundo. - exclama a irmã, fazendo beiço -
O menino ri, divertindo-se nesse dia quente. Segue a ordem da chata da irmã e volta até a parte rasa. De repente o menino quase tropeça. Pisou em algo muito duro que quase o fez cair. Imaginando que seja uma pedra ele tenta retirá-la para jogar em um lugar seguro, pois alguém poderia se machucar como quase aconteceu com ele. Para a sua surpresa era uma caixa muito bonita. Estava novinha e sem nenhuma marca de oxidação.
O pai das crianças as vêem correndo freneticamente até ele e seu menino carregava algo reluzente em mãos.
- Olha pai o que o Paulo achou. - diz a irmã -
O pai analisa o pertence e logo chama a atenção de sua esposa, que tomava banho de sol tranquilamente.
- Dê uma olhada no que seu filho encontrou Heloísa.
A ex-top model tira seus óculos escuros e pega em mãos o objeto, logo vendo um nome gravado embaixo da caixa. "T'an-mo"...

A Cortina Vermelha



As lágrimas escorriam do rosto de Lúcia, pois seu filho Jonny havia morrido de uma doença misteriosa. Ela havia deixado o quarto de Jonny seu filho falecido, diferente do que era, pois sabia que fora nele que adoeceu, mas um item não fora mudado de lugar. Era a cortina de cor avermelhada que Jonny sempre brincava. Glauco que era marido de Luci e padrasto de Jonny, dizia que ela não deveria se prender as coisas pessoais de Jonny e pedia que ela sumisse com a cortina. Mary Luci relutou meses para não se livrar da cortina, pois não queria perder a memória de seu filho, mas Glauco insistiu tanto que ela cedeu. Ele embalou a cortina em uma caixa de papelão e enviou em um endereço um pouco próximo dali.
Um conhecido de Glauco foi entregar a cortina para o tal endereço, era uma casa enorme e bem bonita. Duas jovens receberam o pacote, elas o levam para dentro e mostram à quatro rapazes que estavam sentados a mesa, um deles pergunta:
- Esse é o presente do Glauco?
- Sim. - responde uma delas com um sorriso macabro no rosto -
- Então começaremos as festas!
Todos descem até o porão, que por sinal era espaçoso e esparramam a cortina ao chão. Um dos rapazes diz:
- Hei, deveríamos esperar a Solange e a Mel.
- Não se preocupe Humberto, depois elas verão o resultado. – diz uma das mulheres -
A outra jovem diz a um dos rapazes:
- Luciano, porque não começa a fazer o círculo de uma vez?
- Calma Bárbara, só preciso encontrar a matéria-prima! – Luciano a acalmando -
- Cláudio e Diego, ajudem também pegando as oferendas! – diz a outra jovem -
- Já basta a Bárbara de mandona, agora tem a Lídia também. – Cláudio reclamando -
Cláudio e Diego sobem as escadas para pegarem as oferendas, enquanto Bárbara e Lídia arrumavam a cortina e Luciano terminava o círculo.
Passado algum tempo, eles resolvem tudo, Cláudio e Diego haviam trazido as oferendas, Bárbara e Lídia arrumaram a cortina, Luciano terminara o círculo com inscrições estranhas e Humberto segurava as oferendas.
Humberto para ter certeza que tudo estava certo pergunta:
- Vocês verificaram se a cortina contém o sangue do tal garoto?
- Sim lógico, não somos burras sabia? – diz Lídia ofendida -
Então Humberto envolve o círculo com as oferendas que eram sete jarros cheios de sangue e o corpo de Jonny da qual eles haviam surrupiado do túmulo recentemente fica de frente para o círculo de proteção e dentro do principal, assustada Bárbara pergunta:
- Não era para o corpo do garoto estar em decomposição, pelo tempo que ele já foi enterrado?
- Esse motivo também me intrigou, mas o mais impressionante é que retirei todo o sangue de seu corpo e nem pálido ele está! – Humberto responde intrigado -
Ele vê se o círculo estava na direção exata da cortina e do corpo, que fica por cima da cortina, entra no círculo de proteção, Luciano se pronuncia:
- Sou eu quem vai fazer o ritual, porque eu fiz o círculo! – diz Luciano com autoridade -
- Mas a questão é que tenho mais experiência e este círculo está...
- Não quero saber se tem experiência ou não, a questão é que eu fiz e vou terminar. – interrompe Humberto bruscamente -
Humberto então o deixa reger e sede o espaço dentro do círculo e entra no outro que as mulheres haviam feito para se proteger. Luciano entra e começa a conjurar. Passa alguns minutos e um forte vento acinzentado fica no lugar, Luciano diz:
- Ó poderoso Sammael, príncipe da Sheol, traga a vida a este corpo oco que havera de ser tirado por males espirituais. Que assim seja!
O vento fica mais intenso e era perceptivel um aspecto demoníaco formado nele que de tão forte criou forma. O vento rodeou o círculo diversas vezes esvaziando os jarros até os deixarem secos. Luciano começa a rir e diz:
- Eu sou o melhor!
Humberto dá uma risada maliciosa e diz:
- Morra seu idiota!
Luciano se assusta com o que Humberto diz e subitamente o vento entra no círculo e o envolve, sem muita reação, ele cai morto ao chão.
- O que houve? O que aconteceu ao Luciano? – Cláudio pergunta assustado -
- Ele esqueceu de fazer o símbolo de proteção, então o demônio tomou sua alma. – explica Diego -
Humberto ri e toma uma cotovelada de Bárbara que diz:
- Como pode fazer isso com ele? Eu tenho certeza que você sabia!
- Eu tentei avisar só que ele quis me ouvir, fez por merecer! – Grita raivosamente -
- Calem-se! Vejam, está acontecendo. – Diego aponta para o garoto -
O vento começa a rodear o garoto e um círculo de fogo o contorna. Gritos agonizantes do inferno podem ser escutados e as linhas do círculo começam a interligar com o corpo do garoto e todo o vento entra pela boca dele. Todos observam atenciosamente e o corpo dele começa a flutuar, um forte vento que brotava do chão o erguia até o teto.
De repente um buraco negro começa a formar no peito do garoto e um vulto é sugado por ele. O vento retorna e começa a rodear o pescoço dele até virar um colar de ferro, cercados por sete grandes pedras negras. O corpo do garoto começa a descer e toca no chão, ficando em pé.
Certo de que acabou, Humberto pede permissão para sair do círculo e aproxima-se do garoto perguntando se ele podia o entender. O menino abre os olhos e Humberto leva um susto, os demais pedem licença e saem do círculo perguntando o que havia acontecido, todos olham e também ficam assustados.
- Que merda é essa? – pergunta Diego -
- O idiota do Luciano não fez direito e deu nisso! – reclama Humberto -
Os olhos do menino estavam cobertos de sangue que escorriam, não dava pra saber em que direção ele olhava de tão alagado que estava. O menino gira a cabeça pro lado e todos se assustam pelo movimento rápido, ele começa a andar até uma pilastra de madeira e começa a mordê-la ferozmente. Diego respira fundo e diz:
- Vou avisar ao Glauco que deu tudo errado.
Ele começa a subir as escadas e os outros ficam observando o garoto, que rapidamente arranca a madeira do lugar e a rói ferozmente. Lídia com muito receio, pergunta a Humberto:
- Que droga ele está fazendo?
- Bem eu não sei de tudo... – responde Humberto -
De repente o garoto para e estica o corpo, ficando apoiado somente pelas pontas dos pés, como um suricate guardando sua toca dos ataques das hienas. Rapidamente o garoto corre subindo as escadas, quase que impossível de se ver a velocidade, todos tomam um susto e sobem as escadas rapidamente, Cláudio tenta abrir, mas estava trancado.
Diego havia discado para a casa de Glauco e escutava o terceiro toque do telefone. Subitamente, sente um gosto enferrujado na boca e uma espécie de líquido escorrendo dela, ele assusta-se e vê o que era, para sua surpresa saía do telefone, rapidamente ele o larga e vê que era sangue. Assustado, olha para os lados, mas não encontra ninguém, escutando apenas um quase inidentificável ruído, ele ri e diz raivosamente:
- Belo truque, mas não estamos de brincadeira aqui!
O ruído aumenta e se torna um som gutural agudo, parecidos com grunhidos de porco, ele tenta procurar, mas não encontra ninguém. Acidentalmente, pisa em algo pastoso, parecendo que havia pisado em uma barata cascuda, olha no que pisou e vê que era um líquido preto. Sente uma gota extremamente quente cair em seu pescoço, ele dá um salto para trás e olha para cima. Subitamente uma coisa pula em seu peito e fica grudado nele cravando as unhas no grande peitoral, ele grita de dor e tenta tirar o garoto endemoninhado de perto dele, mas o garoto crava mais profundo em seu peito, juntando as mãos em direção à linha branca do corpo, rachando assim o osso esterno. Diego tenta esmurrar a dura cabeça do garoto que parece não sentir um mínimo de impacto. O garoto emprega mais força e parte ao meio o osso esterno, fazendo-o gritar de dor agonizante, assim abrindo completamente o peito de Diego. Seu coração aos poucos vai perdendo os batimentos e antes que terminasse, o garoto arranca bruscamente de seu corpo.
De tanto tentar eles conseguem arrombar a porta e procuram pelo tal garoto, mas a única coisa que encontram, são pegadas de sangue, inclusive no teto. Todos ficam preocupados com Diego e resolvem procurá-lo. Depois de um tempo, Bárbara grita apavoradamente, todos se assustam e resolvem procurá-la, quando a vêem imóvel, percebem o motivo do grito, o corpo de Diego estava inexplicavelmente grudado no teto, sem os órgãos internos e o olho esquerdo, completamente oco. Eles ficam apreensivos, fazendo que nessa medida inesperada Cláudio pronunciasse:
- Não disse que isso daria em merda! Agora estamos condenados!
- Cláudio, você não está ajudando dizendo isso. - Humberto tenta acalmar -
- Como quer que fiquemos?! O Diego está morto droga! - Bárbara diz completamente apavorada -
- Quer que eu faça o que droga?! Discutir não vai resolver nossa situação! - replica Humberto -
- Ele está certo, temos que matutar com calma e resolver esse assunto. - diz Lídia -
Bárbara pega as espadas que estavam empunhadas na parede e joga para cada um deles, dizendo:
- Então o que estamos esperando? Vamos matar esse desgraçado!
Cada um vai com um parceiro para dar apoio e fazer um reconhecimento maior de onde o garoto possa estar. Bárbara e Humberto vão para os fundos da casa, enquanto Lídia e Cláudio cobrem a garagem. Nos fundos havia uma vasta seleção de plantas, onde seria um ótimo refugio ao menino insano, começam a procurar, Bárbara pega a parte esquerda enquanto Humberto à direita. O mato começa a se mexer e Bárbara fica atenta, protegendo-se com a espada a sua frente, com um sinal chama Humberto, que ao ver segue em sua direção. Ela começa a aproximar-se e algo pula pra fora do mato, num golpe de desespero, difere a espada na tal criatura e salta para trás, caindo ao chão logo em seguida. Humberto ao ver, segue em seu auxilio e a levanta, um pouco sem fôlego ela diz:
- Acho que matei o desgraçado!
Eles vão verificar e encontram um sapo fatiado, Bárbara estranha e diz:
- Quando ele pulou pareceu maior.
- Deve ter sido o seu medo que o deixou grande.
- Mas mesmo que seja um sapo, como ele veio parar aqui? Se hoje mesmo eu cuidei deste quintal.
Humberto olha pro céu e diz:
- Deve ser porque vai chover bem forte e eles procuram sempre um lugar para se proteger.
Na garagem, Lídia verificava o carro enquanto Cláudio os armários de ferramentas. Vendo que não estava na garagem, resolvem procurar em outro lugar, Cláudio aproveitando pega uma marreta e facão de peixeiro e é o primeiro a sair, Lídia resolve dar uma outra olhada já que pareceu ver algo, mas não encontra nada, retorna para a saída. Subitamente o carro é arrastado e a prende contra a parede. Ela grita de dor, mas não podia ver quem havia feito, pois seu rosto estava prensado contra a parede, impossibilitando a visão. Cláudio vem correndo para ver o que é, e depara-se com o medo, o garoto estava encima do carro e voltou o olhar para ele, que ao vê-lo paralisa-se de temor. Sua pele ficou acinzentada, suas unhas estavam compridas e afiadas e ao mostrar os dentes para intimidar Cláudio, reparava-se que estavam afiados como o de um tubarão, seus olhos continuavam os mesmos, sombrios e sangrentos e Cláudio encontra o olho perdido de Diego, estava grudado em uma das sete pedras negras do colar do garoto. Cláudio grita apavorado e corre de medo, o garoto o segue, mas escuta o choro de dor de Lídia.
Ela apavorada pergunta:
- Cláudio, cadê você? Por que está gritando?
De repente escuta um barulho, como se alguém tivesse pulado encima do carro. Seu rosto coberto em lágrimas clamava que fosse Cláudio para ajudá-la, então pronuncia:
- Quem está aí? Por favor, me ajude?
Seu cabelo é puxado bruscamente e ela berra de sofrimento, enquanto berrava algo penetrou em sua boca, tinha gosto de terra com graxa, mas ela não abria os olhos, pelo desespero da morte. Descobre que é uma mão, quando sente as unhas no céu da boca e quatro dedos em sentido contrário a maxila, tomando coragem abre os olhos e vê o bizarro garoto, ela grita abafadamente e o menino mostra seus dentes mortais com o susto, empregando força sobrenatural, arranca a cabeça da maxila do corpo de Lídia.
Cláudio consegue achar Bárbara e Humberto, eles reparam que Cláudio estava cadavericamente pálido e que ofegava como alguém que acabara de salvar-se de um afogamento.
- O que houve Cláudio? – Humberto pergunta preocupado -
Cláudio apóia as mãos nos joelhos e tenta recuperar seu fôlego que foi tirado pelo susto, ao recuperar diz:
- Eu vi... Eu vi o garoto... Está totalmente... Demoníaco!
- Como assim? O que houve realmente? – Bárbara receosa -
- Ele está... Com a pele acinzentada... Com os dentes serrilhados...
- Mas que diabo está acontecendo? – Bárbara confusa -
Ela repara que Humberto fica pensativo e sem dizer palavras, com certeza dele saber pelo menos de algo, pronuncia:
- Sei que sabe de algo Humberto, então diga logo!
Sem muito que esconder fala:
- Lembra quando o vento o ressuscitou?
- Sim lembro.
- Depois que o vento cessou, um colar surgiu em volta de seu pescoço. Parece-me que Sammael o apadrinhou!
- Como assim o apadrinhou?! – pergunta assustada -
- Já que o idiota do Luciano não conjurou adequadamente, o garoto não devia ter ressuscitado, mas por algum motivo Sammael o fez.
- Nossa então é por isso que ele está matando compulsivamente.
- É verdade. Bom Cláudio, onde ele...
Sua fala cessou, pois não encontrou Cláudio em lugar algum.
- Onde ele foi? - pergunta Bárbara -
- Ele estava ao nosso lado quase agora! – responde Humberto -
Bárbara começa a desesperar-se e exclama:
- Não ficarei nem mais um minuto nessa casa maldita!
Começa a correr apavoradamente para a saída, Humberto tenta impedi-la, mas não consegue. Ela está quase atingindo a saída, quando inesperadamente algo grande cai encima dela, um grito ensurdecedor ela propaga no ar, Humberto ao escutar segue em direção.
Bárbara leva as mãos ao rosto, pois não acredita no que testemunha, Cláudio estava suspenso no ar por vários arames farpados, que atravessavam sua carne e o deixando esticado para que sua dor fosse maior. Mas o mais bizarro é que de seu peito até a virilha estava arrombado sem seus órgãos internos e na face, foi retirada a narina. Humberto chega e fica abismado com o que vê, Bárbara com muito medo esconde sua face abraçando Humberto, principiando a chorar descontroladamente. Estranhamente uns barulhos de estouros surgem e os dois começam a seguir para a saída, quando chegam percebem que fora bloqueada por vários objetos. Desesperada, Bárbara segue correndo para a garagem, Humberto tenta segurá-la, mas novamente de nada adianta.
No caminho da garagem, ela encontra uma marreta e um facão, supostamente abandonados por Cláudio, pelo susto que tomara. Pega a marreta e continua seu trajeto, ao chegar, depara-se com o garoto encima do carro, ele parecia esperá-la. Extremamente rancorosa ao ver o corpo de Lídia prensado contra a parede e do jeito que morrera, ergue a marreta para acertá-lo, ele mostra suas presas nocivas para intimidá-la.
Os dois ficam analisando um ao outro, esperando quem precipitará o primeiro movimento, percebe que no colar do garoto, por cima das pedras, havia um olho, uma orelha e um língua, sabendo que pertencera a seus amigos. Ela se cansa de deixar erguida a marreta e a apóia no chão, ao ver este movimento o garoto pula para cima dela e com um movimento rápido, suspende a marreta, fazendo-o voar longe, deixando-o inconsciente logo em seguida.
Humberto chega ao local e vê que ela o abateu, percebe que estava nervosa, extremamente trêmula e largado a marreta ao chão. Ele abraça-a confortando-a.
Depois disso, vão analisar o garoto e seus corações tremem de tão veloz suas batidas. Bárbara fica nervosa querendo saber onde ele fora parar, Humberto arma-se com a espada que Bárbara havia lhe dado e eles começam a seguir até o portão da garagem.
Eles analisam cuidadosamente e o garoto havia realmente sumido, esperançosos tentam abrir o portão da garagem, mas não conseguem.
- Não, não, não! Isso não pode estar acontecendo! – berra Bárbara levando as mãos na cabeça -
- Sammael selou esta casa para ninguém entrar e nem sair. Só sairemos daqui, quando matarmos seu afilhado. – explica Humberto -
- O que vamos fazer?!
- Teremos que ir ao porão e ver se tem algum livro que nos ajude.
Sem mais demora, eles partem rapidamente para o porão.
Duas jovens ficam em frente a casa, com muitas sacolas nas mãos. Uma delas coloca a chave na fechadura da porta da frente para podê-la abrir e consegue. Elas entram e seguem para a sala.
Bárbara e Humberto vasculhavam os livros, em busca de algo que os auxiliassem nesta ocasião tenebrosa, quando escutam sons de passos. Eles assustam-se e armam-se com o que tem, sobem a escada e com muito cuidado abrem a porta. Escutam que os passos cessam e calmamente procuram o garoto, repentinamente vêem algo e partem para atacá-lo, com sucesso os dois acertando ao mesmo tempo. Uma voz apavorada grita.
- O que vocês fizeram?! Mataram ela!
Eles assustam-se e vão analisar, ficam apavorados ao ver, que mataram Solange, uma de suas amigas. A outra mulher que era Mel, enlouquecida de ódio diz:
- Estão loucos?! Por que fizeram isso?!
- Não foi por querer, pensamos que fosse o maldito garoto! – Bárbara em prantos -
- Que garoto?! Eu não vi nenhum maldito garoto! – diz Mel examinando o corpo -
Bárbara olha para Humberto e pergunta:
- Você não disse que ninguém saía e entrava?
- Isso foi só uma teoria, mas pelo jeito, só há como entrar!
- Mas que merda está acontecendo? – interrompe bruscamente a conversa -
- Vocês estão loucos? Não vêem o que fizeram seus desgraçados...
- Calma Mel, ninguém está louco... – Humberto tenta explicar -
- Calma? Você quer me pedir calma numa hora destas?
- Mas me deixa expli...
- Vou chamar o Glauco aqui e acabar com... Aaaaiiiiii! - subitamente ela cai ao chão e é arrastada por algo -
- Socorro! Ai me ajudem! – clama Mel auxilio -
Os dois tentam acompanha-la, mas seu corpo atravessa cômodo por cômodo ligeiramente, usando os pontos acessíveis de entrada.
Finalmente quando alcançam, a vêem pendurada em buraco no teto, sendo puxada para dentro, mas não entrava, pois o buraco era muito pequeno.
- Aiiii... Aiiii... Dói demais... Socorro... – introduz Mel a sua dor em lágrimas -
- Fica calma, vamos ajudá-la! – Humberto consola -
- Por favor, rápido, está doendo.
Humberto e Bárbara seguram nas mãos dela e começam a puxá-la para baixo. Ela grita dolorosamente.
- Aiiii... Ele está me puxando mais forte!!!!
Eles tentam salvá-la, mas o garoto foi mais forte, fazendo partir o corpo de Mel ao meio e puxando para dentro do buraco. O sangue jorra e atinge os dois, fazendo Bárbara gritar histericamente, Humberto a agarra e a tira dali.
Apavorados tentam um lugar para se esconderem e pensarem melhor. Correm até os fundos, chegando ao quintal. Bárbara ajoelha-se e cobre seu rosto no solo, para não mostrar a aflição. Humberto pensa no que fazer, mas não tem a mínima idéia de como começar, de repente ouvem uma voz familiar:
- Vocês estragaram tudo!
Os dois procuram quem pode ter dito isto e encontram.
- Glauco?! O que faz aqui?! – pergunta Humberto assustado -
- Resolver a merda de vocês!
- Você já está sabendo? – pergunta Bárbara surpresa e apreensiva -
- Alguém ligou para minha casa e quando atendi, ouvi gritos de desespero e uns grunhidos. Então vi no identificador de chamadas e percebi que era daqui.
- Mas como você entrou sem que a gente percebesse? – pergunta Bárbara -
- Rapidamente peguei meu livro de feitiços e corri para cá resolver o problema, entrei pela porta da frente e dei a volta na casa. – explica Glauco -
- Nesse livro tem algo que nos ajude? – pergunta Humberto -
- Para saber se pode nos ajudar, preciso que me informe o que ocorreu.
- Primeiramente, foram precisos sete jarros de sangue de animal, Luciano não completou o círculo direito e sua alma foi levada. O anjo negro que invocou foi Sammael, o garoto ressuscitou com um colar de ferro com sete pedras pretas...
- E que nelas agora tem pregado um olho, uma orelha e uma língua. – interrompe Bárbara -
- Seus dentes estão serrilhados e suas unhas grandes e afiadas, percebemos que cada vítima teve seus órgãos internos arrancados e como a Bárbara disse, faltando algo da face. – Humberto termina a explicação -
Glauco fica pensativo tentando procurar uma resposta, balança a cabeça positivamente e diz:
- Entendi a simbologia...
- Então explique de uma vez! – Bárbara pede nervosa -
- Já devem saber que Sammael o apadrinhou?
- Sim. – responde os dois ao mesmo tempo -
- Sammael praticamente é aquele colar e a sete pedras simbolizam os sete dons.
- O motivo dele pregar um olho ou coisa parecida, faz com que ele conheça cada um de vocês e de como agiriam. Retirou as partes de cada um que mais lhe fossem úteis. Na questão dos órgãos surrupiados, é explicado na forma dos sete jarros de sangue, pois como ele veio pelo sangue, necessitará deste para viver neste plano.
- Ah, então quer dizer que Sammael está controlando o corpo do garoto? – pergunta Humberto -
- Não necessariamente... – responde Glauco -
- Como assim não necessariamente?! – pergunta Bárbara nervosa -
- Como expliquei Sammael o apadrinhou e só o induz a fazer o que ele quer
- Mas por qual motivo esse garoto teria vontade de matar? Por acaso tinha uma mente diabólica? – pergunta Humberto -
- Ao contrário, Jonny era um garoto amável e alegre.
- Então por que está com este instinto assassino? – indaga Bárbara -
- Ele procura vingança! – Glauco retruca -
- Mas porquê?! – Humberto em dúvida -
Glauco parece ficar extasiado, pois não produzia mais nenhum som.
- É com você que ele quer vingança não é? – inquiri Bárbara -
Glauco olha fixamente para o chão sem dizer palavras. Humberto com tremenda aversão diz:
- Então este maldito está matando por sua culpa!
- Vamos diga! – Bárbara pressiona –
Glauco não tendo mais o que esconder explica:
- Estava praticando em casa quando minha mulher havia saído para resolver um assunto familiar. Como Luciano, errei um passo do ritual e o demônio que era até o próprio Sammael, começou a perturbar o Jonny em vez de mim.
- Não queria que isso ocorresse, mas... O garoto começou a adoecer e freqüentemente expiava sangue por todos os poros do corpo. Minha mulher chamou um médico para resolver, mas eu sabia que ele não resolveria o problema.
- O caso do garoto ficou sem solução na medicina, então ela resolveu chamar um padre para exorcizá-lo, mas foi tudo em vão, o garoto regurgitou grande quantidade de sangue no padre e ele correu apavorado. Depois disso faleceu, então tive a idéia pedir a vocês que o revivessem com o sangue que ele havia derramado na cortina.
- Então quer dizer que ele seria ressuscitado para viver uma vida normal? Pensei que iríamos controlá-lo para fazer nosso serviço sujo! – diz Humberto indignado –
- Mas o garoto não podia viver como antes, pois seu lapso de memória seria lento, fazendo com que lembrasse dos momentos ruins, pois foi feito com magia negra. – diz Bárbara –
- Eu sei... Eu sei. – diz isso ajoelhando e iniciando a chorar –
- É que eu queria diminuir minha culpa fazendo isso, mas vejo que só piorei. – explica Glauco em prantos –
Humberto o pega pela camisa e o suspende na parede.
- Por causa de uma coisa idiota, quer que paguemos com a vida maldito?!
Bárbara segura Humberto e o faz largar Glauco, em seguida diz.
- Não é hora de brigar, pois temos que tomar cuidado com o garoto!
Humberto distancia-se com o maior rancor do mundo e tenta esfriar a cabeça, enquanto isso Bárbara tenta ajudar seu lado.
- Glauco, será que tem um jeito de acabar com ele? Pois mesmo que queira, o garoto vai continuar sendo um monstro e matando tudo que vê pela frente.
- Sim tem um jeito. – responde Glauco –
- E qual seria?! Por que não desembucha logo?! – raivosamente reclama Humberto –
- Quer parar de ser idiota e o deixar falar, droga! – Bárbara o exorta –
- O jeito é ter que queimar a cortina, já que lá continha o sangue do Jonny, assim fará ele perder a ligação com este plano.
- Que ótimo! – reclama Humberto –
- O que foi agora Humberto? – pergunta Bárbara –
- Se você não reparou, a cortina havia sumido quando fomos até o porão! – diz raivosamente –
- Droga, agora temos que tomar dele! – diz Glauco –
- O que estamos esperando? – diz ela –
Eles vasculham a casa atrás do garoto, procuram primeiramente na garagem, já que ele atacou mais ali. Não acham nada então resolvem ir para o segundo andar que continha só três cômodos, de repente escutam um barulho no telhado, automaticamente ficam prevenidos. Bárbara percebendo o que é diz:
- É a chuva. Sempre ocorre esse barulho no telhado quando chove, ainda mais no segundo andar.
Não dando importância, vasculham dois dos cômodos, mas nada encontram. A caminho do terceiro, percebem um movimento que corre por terceiro cômodo e rapidamente preparam-se para combatê-lo. Calmamente seguem até o cômodo e num relance, acendem a luz e entram com tudo. Novamente vêem outra cena lastimável, mas com uma diferença, o corpo de Mel estava totalmente dilacerado e sem os órgãos internos, com a cabeça quase intacta, lhe faltando o nariz.
Bárbara fica com ânsia de vomito, percebem que ele havia escapado pelo buraco que havia no chão e que havia puxado Mel para o cômodo.
Descem e procuram no exato local em que localizava o tal buraco, Glauco anima-se ao ver a cortina jogada no chão e a analisa, retira um isqueiro do bolso e inicia a queimar a cortina. Percebendo que iria demorar a carbonizar, Humberto diz que vai buscar álcool na cozinha e sai. Bárbara sente-se aliviada e senta-se no chão, mas é surpreendida pela voz apavora de Glauco.
- Ó meu Deus!
- O que foi?! – pergunta apreensiva –
Glauco ergue a cortina em chamas e aponta um buraco nela.
- O quê que tem?! – pergunta novamente –
- Esta era a parte que estava com o sangue!
Na cozinha, Humberto havia achado o álcool e no caminho de volta depara-se com Jonny encarando-o. Ele gela e procura pela espada, fica apavorado ao lembrar que esquecera de carregar, percebe que um pedaço de pano está cravado no colar. Sem muito que pensar, abri a garrafa de álcool e joga em direção de Jonny, o deixando meio atordoado pelo forte cheiro, ótima chance de pegar distância dele começando a correr.
Chega até os fundos da casa e esconde-se entre as plantas, para seu alivio encontra uma pá de ferro e a pega. Percebe um movimento rápido entre as plantas e Jonny pula dela caindo encima dele, os dois vão rolando entre a grama e Humberto o empurra, deixando-o bem distante. Aproveita que Jonny está se levantando e difere um golpe com a pá, bem no rosto fazendo-o cair instantaneamente, nisso começa uma seqüência de golpes mortais contra o garoto, até cansar.
Quando chega a conclusão de que já havia matado o garoto, crava a pá nas costas dele, fazendo espirrar muito sangue, depois disso cessa. Procura fôlego, pois seus golpes violentos o impediram de respirar. Depois vai procurar o álcool que havia deixado cair entre as plantas, encontra a garrafa que estava um pouco a mais da metade e escuta um som estranho, olha para trás e assusta-se como que vê. O garoto ainda deitado retira a pá cravada em suas costas, não acreditando no que presenciara, aproxima-se devagar dele e vê que suas costas estavam regenerando-se aos poucos, inclusive os ossos rachados.
Desesperado, começa a correr para dentro da casa. Passando por alguns cômodos, percebe que ele já o está seguindo, quando acha Bárbara e Glauco, para em frente deles.
- Aquele maldito é imortal, tentei mata-lo, pois bati muito nele até tirar sangue, mas de nada adiantou! – diz ele desesperado –
Subitamente algo pula em suas costas e começa a feri-lo, Bárbara e Glauco vão ajudar, mas receavam a atacar, pois Jonny estava cravado em suas costas e Humberto não parava de girar e gritar aterrorizado. Começa a se jogar de costas contra a parede e o chão, não tendo sucesso, joga um pouco do álcool na cara de Jonny fazendo-o hesitar, hora perfeita para jogá-lo no chão e obrigá-lo a ingerir todo o álcool, Bárbara crava as duas espadas no estômago do garoto, fazendo-o executar um som estridente e irritante.
Rapidamente Jonny as retira e Glauco joga o isqueiro na poça de sangue que se formara, começando a pegar fogo, Jonny amedrontado corre do fogo, que começa a persegui-lo pelo rastro de sangue, mas ele se protege grudando-se no teto e fugindo em seguida. Humberto pega o isqueiro antes que se acabe o gás.
Glauco anima-se e diz:
- Temos chance de derrotá-lo. Viram como estava cansado e deformado depois de ter lutado com Humberto. Não podemos deixar que beba sangue, assim ficará vulnerável.
- Então vamos rápido, pois parece que ele seguiu para o buraco que leva até o corpo da Mel. – diz Bárbara –
Escutando isso, todos seguem para o segundo andar e vêem o garoto bebendo o escasso sangue do corpo. Bárbara sem pensar duas vezes tenta o acertar com a espada, mas ele esquiva e gruda em seu braço direito, iniciando a mordê-lo.
Ela entra em pânico e diz:
- Tirem isso de mim, ele está sugando meu sangue!
Humberto rapidamente o acerta com a pá e o faz colidir contra a parede, acuado Jonny desce pelo buraco.
Bárbara inconsolavelmente começa a murmurar de dor, Glauco rasga uma parte de sua camisa e Humberto enrola no ferimento, ele a levanta.
- Maldito... Maldito... Ele vai me pagar! – em prantos ela promete –
Eles saem do cômodo e começam a descer as escadas, quando escutam um barulho e subitamente Glauco grita e começa a cair escada abaixo. Humberto e Bárbara haviam desviado e descem ligeiramente.
Ficam estáticos ao verem que Glauco estava de joelhos parecendo estar em êxtase e o garoto estava mordendo seu pescoço, o menino cessa e olha para eles mostrando suas horripilantes presas, seguido de um grunhido. Glauco ainda estava vivo, mas não conseguia se mexer pela grande perda de sangue. Jonny posiciona seu braço para trás e seus dedos ficam em linha reta, parecendo mirar na costa dele, Humberto e Bárbara armam-se contra ele, não tendo esperança de que Glauco sobreviverá. Jonny perfura a costa, todo o corpo de Glauco estremece pelo golpe e com tremenda força, arranca a espinha dorsal de seu corpo, fazendo-o dar seu último grito de vida.
Bárbara fica horrorizada de ódio e parte para cima dele, que recebe um golpe no estomago e cai inconsciente. Humberto fica louco de ódio e parte para cima de Jonny, que defende-se com a espinha dorsal. Humberto tinha boa destreza com a espada e derruba Jonny no chão, já que ele estava debilitado pela perda de sangue, Humberto pisa em seu pescoço e impossibilita sua locomoção, fazendo-o debater-se compulsivamente.
Ele pega o isqueiro e Jonny fica mais apavorado e a debate-se mais ainda. Humberto com um sorriso diz:
- Vá para o inferno filho da puta!
Splath, um som parecido com este acontece, a cabeça de Humberto fora arrancada. A espada lambuzada com seu sangue estava sendo portada por Bárbara, que ergue o garoto e abre com a espada o corpo de Humberto, para que Jonny pudesse saciar a fome, ele o faz.
Ela retira o pano que cobria seu braço e o ferimento parecia gangrenado, com pedaços podres e pretos, mas lentamente começa a se regenerar e ela vorazmente começa a comer junto com Jonny, os órgãos internos de Humberto, seus olhos não eram mais os mesmos, pois estava igual ao do garoto, estavam cobertos de sangue que escorriam, não dando pra saber em que direção olhava de tão alagado que estava.
Uma voz sinistra se pronuncia entre os dois:
- Bom trabalho aos dois! Agora começaremos a segunda e última parte do objetivo!
A voz vinha do colar de Jonny, era Sammael.
Passado um tempo, Bárbara estava ligando para alguém e imitando perfeitamente a voz de Glauco diz:
- Silva, preciso que retorne para minha casa o embrulho que pedi que levasse para aquele endereço.
- Pô cara, mas agora? Ta chovendo. – pergunta Silva –
- Sim agora. O embrulho vai estar em frente da casa que você entregou, é só pegar e entregar para a minha mulher. Depois disso pode entrar na casa do embrulho que eu estarei esperando com seu pagamento.
- Tá, beleza. – desliga o telefone –
Como combinado, o embrulho estava do lado de fora da casa, em frente à porta. Silva o pega e acha estranho, pois estava mais pesado do que antes e bem maior, não dá muita importância e coloca dentro do carro.
Chega à casa de Glauco e toca a campanhia, deixa o embrulho na porta e vai embora. Lúcia abre a porta e vê a caixa do lado de fora. Ela abre e fica emocionada, pois era a cortina vermelha que Jonny gostava de se pendurar. O traz para dentro com tremenda dificuldade, porque estava muito pesado.
Sua aparência estava lastimável, pois não dormia e não comia direito há dias, pela saudade que sentia do filho, nisso ficou insana. Ela retira a cortina e toma um tremendo susto, Jonny havia pulado dela. Lúcia o encara abismada e com os olhos transbordados de lágrimas, Jonny pula contra ela e a derruba no chão, ele mostra suas poderosas presas e avança para morder o pescoço dela, mas algo o impede, pois de repente para e não sabe o que fazer, sua mãe o abraçava tão fortemente que suas unhas cravaram em sua costa que escorria sangue. Voltou sua atenção para a face dela e viu que chorava inconsolavelmente e dizia:
- Você voltou pra mim! Você voltou pra mim...
Um momento de realidade o atingiu feito avalanche, porque sua mãe não ficara com medo de sua aparência e nem asco sentiu, pelo contrário, depositou todo o afeto que ali adormecera depois de sua morte. Um excesso de confusão tomou conta dele, fazendo com que gemesse pela dor de cabeça, seguido da queda no chão.
Lúcia fica extremamente preocupada e pega Jonny e o coloca em seu colo, começa a aninhá-lo e diz:
- Não se preocupe, mamãe está aqui para te proteger.
O menino fica calmo e apóia sua cabeça no seio dela, parecendo que iria dormir, ela continua a aninhá-lo e a cantarolar uma música de ninar.
- Mas o que há?! Por que paraste Jonny?! Exijo que a mate! - a voz de Sammael ecoa no ambiente -
Lúcia assusta-se com a voz macabra e diz:
- Quem é você?! Por acaso é o monstro que feriu meu Jonny?! Pois se for fique longe ou se arrependerá!
- Cala-te mortal imunda! Terás teu último suspiro de vida! Será expirada por Sammael o "Veneno de Deus"! - com alta e boa voz -
Antes que ela retrucasse, Jonny puxa sua blusa para chamá-la atenção, ela automaticamente o olha e com extrema dificuldade diz:
- Perdoa... Mãe...
- Sim, lógico que o perdôo. - responde sem hesitar -
O menino sai do colo dela e segue até a cozinha, ela sem entender só observa.
- O que farás Jonny?! Enfim a matarás?! - pergunta Sammael -
Jonny alcança uma caixa de fósforos e retira um palito, olha em direção a sua mãe e com dificuldade diz:
- Mamãe... Te... Amo.
Imediatamente Sammael se pronuncia:
- Não faças isso ou te arrependerás!
O garoto não ligando para o que ele disse, acende um fósforo, notando o que ele estava em mente, Lúcia corre para impedi-lo, mas Jonny coloca o fósforo em seu olho sangrento e inicia a ser carbonizado. Lúcia e Sammael, ambos gritam:
- Nããããããããooooooooo!
Um fogo cor rubi incendeia o garoto e Sammael que parecia conversar com alguém diz:
- Não pode ser, tu novamente maldito. Ceifará esta vida e a tomará de mim! Maldito sejas detentor da chave que abrirá o Inferno no Final dos Tempos!
Lúcia fica em uma insanidade descontrolada e começa a queimar também, mas ambos não sentiam dor, pareciam ter sidos anestesiados.
Sammael com muita fúria diz ao tal individuo:
- Se assim desejas tomá-los de mim, assim tomarei suas mortes ao meu prazer!
Ele faz romper a mangueira do fogão que ligava o botijão de gás e depois de algum tempo a cozinha explode, incendiando logo em seguida toda a casa.
Os bombeiros são informados do incêndio, através dos vizinhos e chegam para cessar o fogo. Após tanto esforço, conseguem controlar as chamas. O vento trás um objeto que se choca com o rosto de um dos bombeiros, ele a retira do rosto e analisa, o outro olha e pergunta:
- O que é isso?
- É um pano vermelho chamuscado. Parece conter sangue.
- Ah, então leva para os legistas!
Na outra casa, Bárbara acordara nos fundos, junto as plantas, olha para seu relógio de pulso, sente-se estranha porque não lembrava de nada que aconteceu neste dia. Como um tiro, sua memória dispara, revelando tudo que aconteceu, até mesmo quando estava possuída. Sente um tremendo nojo e aversão a si própria por saber o que tinha feito, prostra seus joelhos no chão e começa a chorar solenemente. Quando ouve passos, fica apreensiva, pensando que poderia ser ele e ouve uma voz:
- Glauco, cadê você?
Ela percebe imediatamente de quem era a voz e corre em sua direção, o abraçando forte e o agradecendo. Era Silva, o homem que entregara o pacote, que confuso pergunta:
- O que foi Bárbara? Qual é o motivo da alegria?
Ela com o aspecto insano, olhando para os lados velozmente, com o corpo completamente trêmulo e de visual deplorável.
- Ainda bem que é você... Ainda bem que é você...
Silva sem paciência diz:
- Tá sou eu, mas cadê o Glauco, pois não sei se ele sabe, mas sua casa queimou, matando sua esposa e enteado carbonizados. E quero saber o que houve aqui, porque eu vi o Cláudio morto, pendurado no arame farpado!
Excede a felicidade em Bárbara ao saber que o garoto morrera e que seus problemas acabaram, que no entusiasmo derruba Silva no chão e corre para a saída, ao chegar, toca na maçaneta e instantaneamente sua mão queima, ela acha estranho e tenta a garagem, mas não encontra o portão e sim uma parede bem sólida, que ela toca para ver se era real. Volta para a outra porta, mas não a encontra lá e sim outra parede bem sólida. Ela fica enlouquecida e pega na garagem a marreta que ela havia largado e volta para a porta da frente, começa a marretar a parede que nem tremer tremia. Fica apavorada e volta para a garagem e martela a parede, acontecendo a mesma coisa, começa a gritar histericamente e Silva aparece na porta perguntando o que foi, ela o encara furiosamente e entra velozmente no carro. Aproveitando que a chave estava na inguinição da à partida e começa a dar rés com o carro contra a parede, mas não adiantava nada, pois nem tremia com o forte impacto. Ela repetia diversas vezes, mas de nada adiantava, seus gritos de angústia crescia cada vez mais e o gargalhar de Sammael pôde ser escutado uma vez mais.